In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsTOZm_Nei7_jYfowNWuhOPjulSc2vN0OeFKHn_n-Scs8sFPbBabDOBLpr3iElQSFvZNbbpa2GRfJcTzJXnE7rA41hQKsdc5yfQ3IMFpZ91GmBUfCIMdGZU6e9cjRqrH2JC_AuMQ/s1600/karl+marx.jpg
Ouvira
dizer: que os acontecimentos desmentem os dogmatismos em dia. Espalharam por aí
a novidade: esta crise é o estertor do capitalismo. De tanta ganância, de os
mercadores de capitais só quererem amealhar lucros, sobrou um numeroso exército
de descamisados. Ainda por cima, os governos atiram combustível para a
fogueira: ateiam o espartilho da austeridade, esganam o gargalo do futuro que
espreita, ao fundo do túnel, agitando um punhal frio.
Corria
à boca pequena: a crise sem par era o tiro suicidário do capitalismo. Do que se
tornara o capitalismo no seu estertor – um selvagem capitalismo. Ainda deitou
os olhos às páginas dos clássicos, dos doutrinadores de antanho, os que
ensinaram as virtudes do mercado livre, da livre iniciativa, da espontaneidade
dos mercados e da magreza das autoridades. Bebeu de novo aquelas palavras. No
fim da assimilação, sentiu-se esvaziado. Órfão de ideias válidas. Aquelas
ideias eram uma disforme manta de retalhos incapaz de explicar a cruel realidade
que passava diante dos seus olhos.
Escutou
uns gurus reabilitados e chamarem a si a tardia razão. E – oh! – se era
imperativa uma razão no firmamento, não fossem as ausentes coordenadas
estilhaçar um rumo também ele imperativo. Os gurus resgatavam teorias que se
julgavam esquecidas no panteão das memórias. Voltavam a pôr Marx e discípulos
em cima do palco. Já não eram desdenhados. A eles não voltava apenas a coorte
de sempre; era engrossada com os defraudados pelos dogmas desacreditados, os
apoquentados pela imoral austeridade. Relia-se Marx e aquelas palavras
assomavam tão atuais. Não eram profecias fora do tempo: voltavam, pelo toque de
Midas da teimosa crise, em viço.
Mergulhou
nos calhamaços, em literatura avulsa que deificava o oráculo marxista. Fez coro
com os que se encolerizaram contra os que se apressaram a fazer o funeral do
marxismo. Não era o fim da história, nem o fim das ideologias, como insistiam
os do pensamento dominante. Ele, dali transviado, era atirado para a frente das
discussões. Não percebia o papel de idiota útil, a carne para canhão a quem era
retirada a guloseima quando destilava um empobrecido desempenho.
O
amigo de infância, também a beijar os calcanhares da sexagenária idade,
perguntou ao telefone como iam as leituras dos progenitores do marxismo. Melhor
dizendo: as releituras. Já não era a primeira vez que se tresmalhava entre
ideias.
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