1.9.11

O embaraço dos elogios


In http://www.mmashop.com.br/imagens/mmashop.com.br/produtos/Punch/Saco_de_Pancada_Couro_Sintetico_120cm_70kg.jpg
(A partir de hoje estes textos seguem o novo acordo ortográfico)
Palavra de honra: fico embaraçado quando ouço ou leio elogios que me sejam destinados. Ruborizo, o corpo enche-se de urticárias imaginárias, olho para todos os lados. Não sei onde me meter. E posso jurar que isto não pertence àquelas manhosas manifestações de falsa modéstia. É um incómodo autêntico. Ainda bem que não são amiúde (os elogios).
Haja quem mova os cordelinhos todos para ser abraçado por quotidianos panegíricos. Arriscava a diagnosticar casos de narcisismo patológico em que se procura com afã um oceano de elogios, mas recuo para que não digam que a minha fobia aos narcísicos (e ao narcisismo em geral) é uma rebuscada manifestação de narcisismo vestido do avesso. É mais sensato fugir do assunto.
Se me não deixarem fugir do assunto (pois, dirão, se o puxei à colação a ele fiquei aferrolhado), direi na minha vez: prefiro as críticas, uma boa contenda, seja ela cortês e sem indigência mental e golpes baixos argumentativos. É que os elogios ouvem-se e agradecem-se, com os incómodos de quem permanece mergulhado numa irremediável timidez e (insisto) a léguas do fermento do narcisismo. Uma crítica obriga ao contraditório, a famosa “defesa da honra” (quando a categoria do oponente a isso obriga, que só incomoda quem pode). Uma crítica, construtiva ou soez, mordaz ou intelectualmente desonesta, destapa a folha de um livro que não recua no dedilhar das páginas. Um panegírico encaixa-se e perde-se nesse efémero momento de atrapalhação (alguém se demora, horas e dias, a remoer um elogio prévio?).
Um elogio é uma anestesia. Uma peleja é um soco no estômago que solta sal sobre a letargia que impera. Elogios a mais transformam quem fez por os merecer em gente madraça, adormecida sob a sombra dos feitos com reconhecimento alheio. São improdutivos, os elogios. A peleja é um shot intenso que impede o sono intelectual. A vacina contra os enquistamentos de mérito precocemente em hibernação por excesso de loas. Mal por mal, antes ser saco de pancada.

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