12.9.11

“Para te perderes e saberes sempre onde estás”


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A frase ecoava nos interstícios do pensamento, incessante. Já não se lembrava de onde vinha a leitura daquela frase, ou se tinha sido exortada por alma amiga. Aquelas palavras iam e vinham, eram marés contínuas que abraçavam o torpor que emergia enquanto o olhar se perdia no firmamento, resoluto na decifração do enigma contido naquela frase.
Teriam serventia as bússolas, as detalhadas cartas militares que revolvem os segredos do terreno, os azimutes escondidos, até os quadrantes resgatados à sucata das atuais inutilidades? Recusando a apoplexia, pousou o dorso da mão sob o queixo e inscreveu a rota no bornal das próximas-coisas-a-fazer. Na posse de todo aquele material, conseguiria tirar em duas penadas as bissetrizes da rota acertada. Por mais que as aparências dissessem que se tinha perdido, as ferramentas de orientação resolviam o enigma.
Todavia, havia uma pulsão que não conseguia domar: cansado de saber onde estava, cansado de pisar sempre as mesmas ruas, entregava-se à errância. Fugia sem destino, arremetendo pelas encruzilhadas que apareciam pela frente só com a ajuda do impulso do momento. Não decantava esses impulsos. Mergulhava de cabeça, com uma voracidade implacável, nos caminhos desconhecidos. Até por caminhos que não tinham marcação nas miudinhas cartas militares. Os pés, de tanto palmilharem o estranhado terreno, não gritavam o cansaço esperado. Embebiam-se nele enquanto o corpo se saciava no aluvião de nutrientes fermentados pelos caminhos desconhecidos.
Sabia que por mais que as bússolas se desorientassem, por mais que o pânico se insinuasse e os interiores sinos dobrassem por se achar perdido no meio de um imenso nada, tudo era o seu contrário. Sossegava-se enquanto as distantes palavras (já não sabia se lidas ou escutadas) continuavam a ecoar no recôndito pensamento: “para te perderes e saberes sempre onde estás”.
Mas afinal, era só publicidade a um aparelho GPS.

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