In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqBo5_7usFAu8Fw8drhmmhyUeUgdyzKEhNL_i48fHlID64bqAeU4KB9JeWRYoaHWNiedrKxAICS-Lws-fQdGKyFjfkkpWG5rxwCTDyhoXcNrMwoux-HkTStzFkKTb9qX81-ve6/s1600/transparencia.jpg
A quem é dado, no seu juízo cabal, tirar as roupas
e errar pelas ruas, pondo-se a jeito da incredulidade, ou do escárnio, de quem
por si passa?
É um exercício dilacerante. A exposição de si. Perde-se
a opacidade do reduto que não se deixava revelar, estilhaçado em mil pedaços. A
escrita é um desnudamento. Por mais que o escritor legue em letra publicada
palavras em antítese de si, nesse exercício dissimulatório (ou apenas manobra
de diversão) encontram-se os rudimentos de uma personalidade. Não há nada mais
transparente. Podiam as palavras ditas ecoar por horas, dias a fio, e nem assim
o interlocutor conseguia tirar bissetrizes tão perfeitas.
Em todo este tempo houve mudança. Em todo este
tempo, o envelhecimento foi cura, as vicissitudes o sal que emprestou sabor
(ora amargo, ora apetitoso) a uma existência em constante embriaguez de
adrenalina. Houve palavras que escorregaram para o exercício autobiográfico.
Tivessem ou não esse calibre, as palavras aqui deixadas pela ainda madrugada foram catárticas.
Mas houve necessidade de publicação. O “mas” tão
enfático faz a diferença na clareza da frase. Era uma transparência que mais
parecia um grito reprimido para tornar audível o que palavras ditas não teriam perícia
para proclamar. E por este tempo todo houve partilha. Até quando dela não
sobravam vestígios de catarse alguma, quando eram inventariadas ficções, apenas
uma fuga de dentro para fora. Uma cortina de sombras que se agigantava atrás
das palavras escritas desviando a atenção para o subsolo da existência. Uma
hipocrisia – ainda estou para decifrar se
o era. Ao cabo deste tempo todo, houve transparência para além da conta
para quem tanto praticou o recato em pretéritos mais longínquos. Dizem que é
ingrediente da madurez. Dizem que o tempo acama as poeiras rebeldes que
transbordaram para além da lucidez. Espreitados de través estes anos todos,
irrompe uma aversão de tanto desnudamento vertido nas palavras escritas.
Hoje passam oito anos sobre a primeira publicação
no Felino. Talvez tenha chegado a altura de o arrematar. O fim de semana o dirá.
3 comentários:
Razão tinham os maias ao prenunciar a "viragem" em 2012!
No entanto, pode não ser sinónimo de rutura. Considera alterações temáticas, por exemplo, ou até mesmo refrescar o estilo...
Desejava que ficasses.
Não remates, não coloques o ponto final.Deixa escorrer o que sentes e o está na tua essência. Obrigado por todos os momentos que sigo desde à 2 anos.
Fica:)
Ao “Felino”, 8 anos depois
Amigo
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.
«Amigo» é a solidão derrotada!
«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
(Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca')
Bom fim de semana …
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