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E ao bater da meia-noite, a
glória que acenava diante dos olhos.
Repousara no antagonismo do
tempo. Sabia que nada era receituário de placidez, as invectivas soluçando na
gaguez das provocações. Talvez tenha amanhecido o tempo cheio de ventos
ausentes e as águas do mar fossem chãs, anestesiantes. A alvorada inerme, um
macio lençol acamado sobre o corpo, o bordão a adormecer a fúria sazonal da
juventude. Amaciando os dias relapsos, os dias que outrora haveriam de ser
saciados como se não fosse certo o dia vindouro.
Mas não. Uma cegueira
implacável, um adiamento de muita coisa. Foi como se as horas primeiras do dia
viessem descontadas no ritual de excessos que mais tarde, a destempo
(diziam-lhe), resgatou do linóleo escondido. Um vulcão reprimido, fervendo na
incrustação das veias. Era apenas um diadema amorfo, uma babel disforme, o
dorso arqueado a contrições espúrias, invisíveis.
Ao entardecer, tomou o gosto
pelos excessos. Parecia mandatado pelo arlequim insidioso que murmurava ao
ouvido as tentações laterais. Vultos sombrios adejavam no espaço circundante ao
solfejo da consciência. Amarelecia, a consciência. Rejuvenescia conceitos,
desemproava valores (palavra doravante proscrita). Excessos a rodos. E por mais
que as dores convulsivas destapassem arrependimentos em véspera de novo
acantonamento de excessos, o dia que haveria de vir, já despejado do pungente
sobressalto, era uma alvorada com as tremuras ansiosas pela renovação das destemperanças.
Passaram a ser matriciais, os
excessos. De linguagem, nos atos, nas intenções, no assalto aos interiores
corredores que pareciam esvaziados de cores. Diziam-lhe os mais chegados,
condoídos, que por este andar a sentinela obscura, de ceifa na mão
mecanicamente oscilando em demanda de incautos, não tardava a afeiçoar-se ao
seu pescoço. E ele, desafiando nos olhos a terrífico fadário, retorquia:
- E perde-se o quê? Ganho eu. Ganho a intensidade dos instantes que sorvo
como um alarve esfaimado. E triunfo sobre as clepsidras dançantes, esses punhais
que se cravam, sem os vermos, na funda carne.
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