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A fação mais jovem e moderada
deitou-se ao projeto do franchising da revolução. Esta geração era mais
instruída e urbana. Não passaram temporadas na cadeia por delito de opinião,
como os mais velhos. Estes tinham o tirocínio das torturas. Diziam, uns dos
outros, que a desconfiança atropelava o cimento ideológico. Mesmo aí, divergiam
na interpretação dos autores de referência.
Notara-se um certo ressentimento
de uns em relação aos outros desde os alvores da revolução. Os mais velhos,
taciturnos, com uma disciplina mental irrepreensível, acusavam os mais novos de
devaneios burgueses. Não lhes perdoavam os estudos no estrangeiro, no covil do
inimigo. Assoberbados pela contínua conspiração, desconfiavam que os mais novos
eram agentes a soldo dos interesses do grande capital. Os mais novos,
descontraídos como manda a idade, desprezavam os olhares de soslaio, as
insinuações mandadas entre dentes, a frieza que era tratamento que os
adversários mereciam.
Por causa da mobilização da rua
(comandada pelas gerações com o sangue fervente); da educação mais refinada; e de
serem contingente numeroso – a fação dos jovens moderados triunfou por dentro
dos revoltosos. Estenderam a mão aos mais velhos. Queriam a sua experiência, a
sensibilidade para as pulsões do povo. E queriam homenageá-los. Os mais velhos,
acantonados numa franja e porque o fátuo orgulho impedia que fossem alvos de
comiseração, foram ficando distantes. Deixaram de aparecer todos os dias. Mas
não ficavam em casa, ou nas tascas populares onde dantes se conspirava contra o
bestiário do capitalismo. Passavam as tardes num lugar secreto. Discutiam o
andamento da revolução. A par com o descontentamento do povo. Estavam mais
impacientes do que o povo. Porque queriam a maior fatia do poder. Acusavam os
moderados de molejarem. Descobriram-lhes vícios burgueses (um dos mais anciãos
encontrara charutos caros, vinhos pedigree,
revistas pornográficas e amostras de trufas depois de remexer nas gavetas do
coordenador da junta revolucionária).
Ainda tinham força para
congeminar um golpe palaciano (se a expressão fosse autorizada por aqueles
lugares ideológicos). Queriam mais ação, menos retórica. Menos intelectuais
aprisionados ao lastro dos livros empinados no ocidente. Um dia, despediam-se à
saída do lugar escondido, foram cercados pelo exército instruído pelos serviços
secretos. Afinal, o líder não molejou. O crime da deserção não tinha perdão.
Tiveram o mesmo destino do negociador internacional que confessara os segredos
da alta finança.
Continuava o aburguesamento da
revolução.
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