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Idealistas, sensíveis a uma tradição
humanista de que se embeberam quando estudaram no “berço da civilização” (e
como custava repudiarem a expressão quando a militância o obrigava), os jovens
moderados lá esboçaram o franchising da revolução. Já sabiam como a revolução se
contagiaria a outras terras, numa maré imparável que devolveria a dignidade à
condição humana.
Tudo começava pelo recrutamento
de jovens idealistas sensíveis ao catecismo revolucionário. Idealistas que
eram, estariam dispostos ao recato monástico (assim vulgarmente denominado; os
revolucionários contestaram o rótulo e deram-lhe nova cunhagem: modéstia do
consumo). Viriam de todas as partidas, espalhar-se-iam aos magotes. Numa terra
haveria militantes de várias origens, credos e raças. Não interessava se sabiam
falar a língua do país que parasitavam. Eles seriam gente de poucas palavras. E
as poucas que usassem vinham em cartazes onde os pregões contestatários teriam
letra de forma.
Gandhi seria o mote dos
comportamentos: resistência pacífica, sem exceções. Queriam ser diferentes dos
desordeiros, os anarquistas sem remissão e os descontentes sem causa que enfeitavam
com destruição gratuita os lugares visitados por assembleias das organizações
internacionais que perpetuavam o marasmo do capitalismo. Acorrentar-se-iam uns
aos outros depositando as chaves dos cadeados nas profundezas dos rios ou no
meio de arbustos hirsutos. Fariam vigilâncias à porta das residências oficiais
de ministros, presidentes e reis (e da gente dos bancos centrais). A vigilância
noturna seria entoada por um coro sibilino, um zumbido zen ensinado por monges
tibetanos – um ruído de fundo a tomar conta do sono dos poderosos. Durante o
dia, ofereciam bolos e chá verde aos polícias de plantão. Insistentemente.
Contariam anedotas sem graça, ensaiariam pequenas peças de teatro com a
apologia dos cânones nos antípodas do materialismo. De cada vez que fossem
presos e depois deportados, não esmoreciam. Seriam substituídos por outro
contingente, e eles e elas colocados noutra terra para a ladainha da exaustão
do capitalismo.
Os poderosos e os ricos, em
trabalho de sapa cuidadosamente identificados, teriam tal tratamento de choque sem
disfarce de qualquer violência. Haveriam de abdicar pelo cansaço – e os
polícias seriam os primeiros, voluntariamente ou por baixa médica, aos cuidados
de psiquiatras.
Seria uma revolução silenciosa,
paciente. Os seus tentáculos pacíficos estendendo-se a todos os lados onde o
capitalismo e as concessões aos poderosos se mantivessem.
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