7.3.12

Como era o franchising da revolução (capítulo XIX)


http://hunternuttall.com/blog/wp-content/uploads/2008/02/zen-garden.jpg
Idealistas, sensíveis a uma tradição humanista de que se embeberam quando estudaram no “berço da civilização” (e como custava repudiarem a expressão quando a militância o obrigava), os jovens moderados lá esboçaram o franchising da revolução. Já sabiam como a revolução se contagiaria a outras terras, numa maré imparável que devolveria a dignidade à condição humana.
Tudo começava pelo recrutamento de jovens idealistas sensíveis ao catecismo revolucionário. Idealistas que eram, estariam dispostos ao recato monástico (assim vulgarmente denominado; os revolucionários contestaram o rótulo e deram-lhe nova cunhagem: modéstia do consumo). Viriam de todas as partidas, espalhar-se-iam aos magotes. Numa terra haveria militantes de várias origens, credos e raças. Não interessava se sabiam falar a língua do país que parasitavam. Eles seriam gente de poucas palavras. E as poucas que usassem vinham em cartazes onde os pregões contestatários teriam letra de forma.
Gandhi seria o mote dos comportamentos: resistência pacífica, sem exceções. Queriam ser diferentes dos desordeiros, os anarquistas sem remissão e os descontentes sem causa que enfeitavam com destruição gratuita os lugares visitados por assembleias das organizações internacionais que perpetuavam o marasmo do capitalismo. Acorrentar-se-iam uns aos outros depositando as chaves dos cadeados nas profundezas dos rios ou no meio de arbustos hirsutos. Fariam vigilâncias à porta das residências oficiais de ministros, presidentes e reis (e da gente dos bancos centrais). A vigilância noturna seria entoada por um coro sibilino, um zumbido zen ensinado por monges tibetanos – um ruído de fundo a tomar conta do sono dos poderosos. Durante o dia, ofereciam bolos e chá verde aos polícias de plantão. Insistentemente. Contariam anedotas sem graça, ensaiariam pequenas peças de teatro com a apologia dos cânones nos antípodas do materialismo. De cada vez que fossem presos e depois deportados, não esmoreciam. Seriam substituídos por outro contingente, e eles e elas colocados noutra terra para a ladainha da exaustão do capitalismo.
Os poderosos e os ricos, em trabalho de sapa cuidadosamente identificados, teriam tal tratamento de choque sem disfarce de qualquer violência. Haveriam de abdicar pelo cansaço – e os polícias seriam os primeiros, voluntariamente ou por baixa médica, aos cuidados de psiquiatras.
Seria uma revolução silenciosa, paciente. Os seus tentáculos pacíficos estendendo-se a todos os lados onde o capitalismo e as concessões aos poderosos se mantivessem.

Sem comentários: