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A urgência de ação metia o dente
nas insónias das cabeças pensantes da revolução. A ninharia dos impostos, mais
a secura em que o país fora posto pela coligação de conspiradores
internacionais, exigia medidas ostensivas. Era isso ou a erosão de todo o processo
revolucionário. O pior seria a deceção do povo: tantas promessas, tanta fé
depositada na revolução, para os revoltosos decaírem na inépcia.
Tendo percebido que não podiam
contar com a generosidade dos outros países (eles não queriam apoiar um pária),
nem com a afluência de tributos ao erário público (ricos eram espécie em
extinção), viraram-se para a alternativa de ação. Sabiam que a sobrevivência do
regime dependia da sua exportação. Estava fora de causa serem uma ilha cercada
pelos tubarões do grande capital. Discutiram os passos a seguir naquela reunião
anárquica em que ninguém ordenava e todos falavam em sobreposição. Discordavam
do método. A linha dura, dos mais velhos, ainda cultores dos métodos estalinistas
que regressavam depois de limpa a poeira, queria brigadas violentas capazes de
roer os alicerces dos inimigos que persistiam no capitalismo que exauria os
povos. A linha que se expurgara de radicalismos, dos mais novos e letrados em
universidades estrangeiras, propunha um método inspirado em Gandhi. Resistência
pacífica, a força do protesto, as virtudes da paciência.
Era uma discussão acalorada. Os
mais velhos eram os mais exaltados. Arroxeavam quando os gritos faziam tremer
as vidraças ao darem de caras com a fleuma dos moderados. A certa altura
acusavam-nos de terem no subconsciente alguma comiseração pelos países de onde
queriam depor o capitalismo. Diziam entre dentes, sem coragem para os fitar nos
olhos: “vê-se que andaram por lá a estudar...”
Os mais jovens não davam parte de fraco. Voltavam a chamar a persuasão dos
argumentos, descontando as provocações dos intolerantes. Já a madrugada ia
adiantada quando se fez a votação – de braço no ar, como mandam os costumes da
ideologia.
Ganharam os moderados. Ficaram
com a tarefa de pensar na maneira de enviar para o terreno as brigadas de
provocação pacífica. Alguns dos mais velhos, cansados pelo sono e derrotados
pelo voto, anunciaram que se iam afastar. “A
revolução” – lamentava um deles enquanto uma lágrima furtiva se desprendia
do olhar embaciado – “não é para meninas.
Não é uma coisa de meias-tintas. O povo merece métodos expeditos, violentos se
preciso for.”
O processo revolucionário
entrava noutra fase. Aburguesava-se.
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