https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKftgeXOprm7BBKIJkrnTpHOaoltPWREg0FoO2SQXEIYJJoY5o3LLL_Bpzr6uCSQxPv4vxUzCT8EJiotIdMazjVNyyIZQbqZfCC46uOzZUtdg8LPq6PWV42HNtKFCcY0mBAlhu/s1600/paper_mache_plain_masks.JPG
Havia ali um enigma. Uma vontade
de torcer os íngremes sopés de onde tudo se avistara. Um olhar era mais lúcido.
Um olhar era o molde para formatar outros olhares. Com uma altivez
imperturbável, como se as bitolas que interessassem fossem apenas as pessoais
bitolas – e as demais, arraçadas de equívocos, tropeçando nas armadilhas que só
um olhar ajuizado conseguia apreciar.
E, todavia, a intrusão era um
afiado dente de leão metido na carne sangrada. A sobranceria era laudatória dos
olhos que se supunham prescientes. Uma objetivação dos sentidos, como se os
olhos tivessem todos de ver o mesmo para além da ora translúcida, ora opaca,
cortina por diante. Era adquirido: uns olhos esbarravam na viscosidade de uma
cortina opaca. Andavam aprisionados à errância. Essa errância, por mais
furibundas que fossem as cicatrizes de antanho, era pertença do juízo
individual. Os olhos que cobiçavam para si uma quase deificada condição decaíam
na corrupção maior – a corrupção que bolça o desdém do outro.
No âmago da intrusão, ou apenas
perante as pequenas erupções anotadas entre a distração congénita, sobressaltava-se.
Podiam os seus passos estar condenados ao precipício. Ou as palavras serem
desastradas. Os pensamentos invadirem as águas fétidas da frivolidade. Os atos,
condenáveis na ação ou na inação, sobejando no altar da mais elevada censura.
Podiam tudo isso. Que nada dava caução à sórdida intrusão, a bitola da afronta
maior, atadura do arbítrio individual.
Dizia-lhe: “deixa-me ser”. Um
singelo ato de permissão do ser em si. No resto, as mãos entrelaçavam-se no
viço da consideração recíproca. Era altura da altivez rasgar a soberba,
perdendo os ares de aristocracia desapossada. Essa altivez era alívio para o
apoucamento alheio. “Deixa-me ser” – disse uma, duas, sabia lá quantas vezes, nas
últimas quase em jeito de súplica. Até ao cansaço da iteração desfazer em
cinzas a paciência que dera lugar à impulsividade.
Só queria ser. O ser. Quem era,
sem ser esculpido por mãos alheias.
1 comentário:
Não deveria ser necessário pedi-lo
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