28.3.12

A sensatez era um “asset”


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Os outros gabavam o predicado. Invejavam a precocidade. A lucidez deixava medir para além da opacidade das nuvens pousadas no firmamento. Desde cedo, os mais atentos pressagiavam dotes que subiram com a tenacidade dos autodidatas. Estes dons precoces, uma intuição informal, tinham causado dissabores. Às vezes parecia adivinhar as armadilhas em que não gostava de cair, muito embora já nada as pudesse contrariar. E as armadilhas doíam mais quando eram pressentidas sem poderem ser evitadas.
A certa altura, era como se tivesse dobrado o equinócio e os ventos soprassem de feição. Sem contar, aterrava no meio de uma tempestade alheia. Entre a poeira levantada pelo turbilhão das almas em desassossego, emparedado entre a sónica berraria e a pele contaminada pela elevada eletricidade estática, mantinha um sangue-frio contagiante. Quando os irritabilidades tomavam conta do pulso sôfrego em redor, mantinha-se imperturbável. A lucidez decantava-se entre as poeiras tóxicas que incendiavam as veias da gente amordaçada pela exaltação. As palavras que entoava, um bálsamo que aquietava os iracundos.
Junto do sexo feminino, o predicado começou a dar cartas. Um sortilégio. As palavras temperadas pela sensatez provocavam um turbilhão em contramão. Este remoinho irrompia, adocicado, o mestre da sensatez a ficar longos minutos estacionado na memória das donzelas assim serenadas. Notou o efeito – e jurou a pés juntos, à amiga entendida nos mistérios dos interstícios da alma, que não fazia de propósito. À medida que não se demitia do proveito, a sua parte sensível não cessava de demandar resposta a esta interrogação: por que se encantavam elas ao serem ungidas pelos dedos suaves da sua sensatez?
A amiga, entendida nos mistérios dos interstícios da alma, encontrou fio à meada: talvez se confirmasse que elas gostam de um porto de abrigo que as proteja das águas tumultuosas do mar aberto.
Enquanto amadurecia a ideia, ele ia tirando partido do dote.

2 comentários:

Vanessa, a Mãe Possessa disse...

Esse teu deleite no acicatar de feministas...

PVM disse...

Nem imaginas...