22.3.12

Um pitbull para cada funcionário público


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Também vinha nas notícias. A culpa é da crise: os utentes das repartições públicas andam com os nervos à flor da pele e debatem-se com falta de paciência. Se calha em não gostarem da informação trazida pelo funcionário público, zás, sai bofetada ou pontapé. É uma injustiça tremenda. Logo neste ano, que os funcionários públicos não podem ir de férias nem podem comprar as prendas habituais do natal, que se acabaram os subsídios respetivos.
Para se repor a justiça, os funcionários públicos teriam o direito de agressão aos utentes mais agressivos. Como a crise e as nuvens sombrias que se acastelam no estertor do horizonte são o fermento do enervamento, e como o enervamento ferve a impaciência até ao ponto de ebulição, a violência devia merecer desagravamento porque aplaca os nervos em franja. As vítimas da violência seriam bons cristãos e dariam a outra face em sinal de respeito e consideração pelas dores que afetam os violentos. Valeria a bolsa de desafetos e sobressaltos. Quem entrasse na zona vermelha das problemáticas sensoriais seria autorizado a expelir as excrescências biliares através de uns sopapos, uns calduços, uns pontapés.
A exceção à panaceia das vítimas seriam os funcionários públicos. É que eles tratam da coisa pública. Merecem consideração especial. São os últimos a terem de passar pela bestialidade dos boçais que aparecem na repartição exalando frustrações. Eles atendem o público, mas não têm de atender os caprichos do público. Um dia destes, ainda tinham de prestar outros serviços que requeressem maior grau de intimidade.
O governo devia arranjar tempo para estudar uma proteção eficaz para os funcionários que zelam pela coisa pública. Uma alcateia de pitbulls, daqueles treinados para a agressividade, não era má ideia. Era uma oportunidade de negócio (para criadores da raça) – e se tanto se apregoa o crescimento económico, a oportunidade não era desaproveitada. Ai de algum utente que pusesse o pé um ramo verde; à primeira vozearia, um pitbull arreganhando a dentadura e rosnando a preceito, em pose ameaçadora, era quanto bastava. Esperar-se-ia que os canídeos não perdessem a bússola. Senão, desatavam a cuspir a agressividade genética sobre os funcionários públicos. E isso é dispensável.

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