13.3.12

Um rebate de consciência: afinal os ricos também eram generosos (capítulo XXIII)


http://saojoaquimonline.com.br/wp-content/uploads/2009/11/Dinheiro-aos-Pobres.jpg
O movimento alimentava-se numa ode contagiosa. Deu frutos o punhado de ricos, quase todos de provecta idade, em oferenda da abastança ao erário público. De terra em terra, nas cordas melodiosas de um violino da concórdia interclassista, os ricos cediam perante imperativos de consciência. Eram os próprios fautores da nacionalização espontânea da sua riqueza.
Parecia que uma doença coletiva se tinha abatido sobre os senhores e senhoras que detinham fortunas incalculáveis. A cada dia que passava, reduzia-se o contingente dos irredutíveis. Sobre eles caía a censura social. Já não era salivada apenas pelos que espumavam ódio aos ricos; os confrades dos endinheirados, agora despojados de uma riqueza que, da noite para o dia, consideravam tão obscena como era papagueado pelos revoltosos, também faziam descer a infâmia sobre os irredutíveis. Reuniam-se à volta da mesa, os irredutíveis sem apetite ao intuírem que a sua fortuna se ia reduzir a um nada. A cada dia que passava, depois de noites mal dormidas, ou nem sequer dormidas, eram mais os endinheirados que se desfiliavam dessa condição.
No país onde a revolução salvífica começara, os mercenários a soldo de uma coligação de governos e de capitalistas deram conta das notícias. À falta de comunicações com quem os contratara, tomaram rédea própria da empreitada. Deixara de fazer sentido o boicote da revolução para que tinham sido recrutados contra a promessa de um batelão de dinheiro. Também eles perceberam que os batelões de dinheiro passaram a pertencer à indiferença das coisas.
Nas terras em que os poderosos capitulavam à medida que entregavam os seus fartos haveres aos funcionários das finanças, os governos esboroavam-se sem que ninguém lhes soprasse sobre os debilitados telhados. Também os governantes da jaez dos capitalistas depostos perceberam que um tempo se tinha esgotado. Só não queriam que o poder caísse na rua – podia haver interesses ocultos e anarquistas geneticamente mal comportados para revolver as entranhas do caos.
As revoluções iam sendo atapetadas numa pacífica transição. Eram tão pacíficas e impercetíveis, que as pessoas quase não deram conta do andamento das revoluções nas diferentes terras.

Sem comentários: