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O movimento alimentava-se numa
ode contagiosa. Deu frutos o punhado de ricos, quase todos de provecta idade, em
oferenda da abastança ao erário público. De terra em terra, nas cordas
melodiosas de um violino da concórdia interclassista, os ricos cediam perante
imperativos de consciência. Eram os próprios fautores da nacionalização
espontânea da sua riqueza.
Parecia que uma doença coletiva
se tinha abatido sobre os senhores e senhoras que detinham fortunas
incalculáveis. A cada dia que passava, reduzia-se o contingente dos
irredutíveis. Sobre eles caía a censura social. Já não era salivada apenas
pelos que espumavam ódio aos ricos; os confrades dos endinheirados, agora
despojados de uma riqueza que, da noite para o dia, consideravam tão obscena como
era papagueado pelos revoltosos, também faziam descer a infâmia sobre os
irredutíveis. Reuniam-se à volta da mesa, os irredutíveis sem apetite ao intuírem
que a sua fortuna se ia reduzir a um nada. A cada dia que passava, depois de
noites mal dormidas, ou nem sequer dormidas, eram mais os endinheirados que se
desfiliavam dessa condição.
No país onde a revolução
salvífica começara, os mercenários a soldo de uma coligação de governos e de
capitalistas deram conta das notícias. À falta de comunicações com quem os
contratara, tomaram rédea própria da empreitada. Deixara de fazer sentido o
boicote da revolução para que tinham sido recrutados contra a promessa de um
batelão de dinheiro. Também eles perceberam que os batelões de dinheiro
passaram a pertencer à indiferença das coisas.
Nas terras em que os poderosos
capitulavam à medida que entregavam os seus fartos haveres aos funcionários das
finanças, os governos esboroavam-se sem que ninguém lhes soprasse sobre os
debilitados telhados. Também os governantes da jaez dos capitalistas depostos perceberam
que um tempo se tinha esgotado. Só não queriam que o poder caísse na rua –
podia haver interesses ocultos e anarquistas geneticamente mal comportados para
revolver as entranhas do caos.
As revoluções iam sendo
atapetadas numa pacífica transição. Eram tão pacíficas e impercetíveis, que as
pessoas quase não deram conta do andamento das revoluções nas diferentes terras.
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