In http://openreflections.files.wordpress.com/2011/08/crowd_2.jpg
O senhor secretário de Estado, todo
poderoso na sombra, de visita ao centro paroquial. Outra inauguração. Com a
procissão de assessores e repórteres e câmaras, fotográficas e de filmar. Mais
o povo convocado a preceito. Havia instruções para um banho de multidão
acompanhado de cartazes com loas aos que mandavam. Corria à boca pequena: o
secretário de Estado, pessoa influente, tinha muitas cartas na manga. E
informações privilegiadas, um serviço secreto paralelo. Mandava mais que todos os
ministros juntos. Tanto que era o único a despachar com o primeiro-ministro.
A gente estava alinhada à espera
de sua excelência. Uns opositores, na contumácia que os levara à dissidência,
tinham sido desviados com precisão cirúrgica (uns empacotados para distantes
reuniões profissionais; outros atraídos no engodo da bebida fácil). Os petizes
estavam numa algazarra ímpar: era dia sem escola. Os aplausos eram garantidos.
Os ganapos agradeceriam um dia sem aturar os professores acinzentados (que,
admiradores da coisa sindical, foram impedidos de comentar a efeméride).
Uns sabichões, recém encartados
em estudos graduados sem serventia, reativaram a militância mal souberam, a uns
dias de distância, de tão importante visita. Podia ser a saída para o
desemprego teimoso (de uns), ou para o emprego precário (de outros), ou para o
emprego aquém das ambições (da maioria). Naquele dia aperaltaram-se tanto que
nem nas bodas respetivas (para os que já se tinham desembaraçado do celibato)
alguém os vira tão apessoados. Teriam de chegar à fala com o secretário de
Estado. Sentar-se perto dele no opíparo manjar que a depauperada autarquia organizara
em genuflexão a sua excelência.
Constara que o secretário de
Estado reservara hora e meia da agenda para audiências com os dedicados
militantes que quisessem puxar lustro à copiosa influência. Era segredo (mal
guardado). Os sabichões, aos magotes, apressaram-se à fila. Chegaram à fala com
sua excelência. O secretário de Estado prometera, por sua honra, arranjar
sinecura local ou nacional compatível. Só não disse em que tempo.
Dois anos depois, quem por ali
socializou com tanta diligência estava no mesmo ramerrame ou tinha engrossado o
exército dos desocupados.
7 comentários:
Já te inspiras no Loureiro??? Buscas um ideal imaginário?
Ponte Vasco da Gama
PVG: o aprendiz de cantor dizia (salvo erro) "idealizar por aí". Repara que eu usei um verbo diferente e uma vírgula que faz toda a diferença...
Por acaso era "surrealizar por aí" (estive a investigar). Enfim, socializar ou surrealizar, com vírgula ou sem vírgula, inspiraste-te no rapaz... estás com a "alma dorida".
Ponte Vasco da Gama
Lamento desiludir-te, mas não me inspirei na personagem. Nem dele me lembrava...(morreu, ou quê?)
Não. Mas matou o Boavista...
PVG
Pode ser que o atual presidente, que é pessoa em quem confio, devolva o teu clube ao lugar que lhe pertence.
Oxalá...!
PVG
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