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Os golpes sem punhos de renda. Os
golpes que atravessam a pele e enfeitam a dor. Fruto do tempo sombrio que deixa
atrás de si o desassossego. Não capitulemos. Seria o maior tributo aos que
espalham as armadilhas onde querem que nos deitemos. Em vez disso, esquadrinhemos
por entre as sombras até descobrirmos uma centelha, um lugar qualquer onde o ar
sobrante seja respirável. Se preciso for, persistiremos na demanda, errando
pelas quatro partidas do mundo até o ocaso do dia não ser o anúncio da noite
que tinge o pano de fundo. Contemplemos o mar que se põe diante dos olhos. Deciframos
a coreografia das ondas que beijam os rochedos tão gastos. Vemos como as águas
se agigantam, como somos tomados pelo medo quando o mar se enfurece sob a égide
do tempo outonal. Temos medo – e depois? Haja, ao menos, a coragem de admitir o
medo que se supõe em cada alvorada, o temor de que alvoradas tardias sejam
oráculo de escureza absoluta. O passado é que está errado e agora estamos
convocados para pagar, com corpo e sangue, as faturas dos desatinos de outrora.
O ar plúmbeo é o sinal dos fogos irremediáveis que são a consumição de muitos.
Até lá, e antes que seja tarde, oxalá possamos sentir a maresia. Oxalá saibamos
o que é ser peixe através do odor da maresia, um bálsamo que nos transporta
para o longe que é o idílico lugar com cabimento. Fechemos os olhos, as finas
gotas salgadas ungindo as pálpebras, o cheiro forte a mar tomando conta de nós
por dentro, e os pensamentos como nómadas, sem freio. Sem desnorte. Regulados
pela maresia formosa que embeleza a alvorada enriquecida pelo nevoeiro. Das
profundezas do mar há de surgir uma musa que dirá os segredos que queremos
ouvir. Ou aos nossos pés no areal molhado depor-se-á uma velha garrafa de onde
resgatamos os segredos escritos num papel amarelecido. E que não nos acusem de
egoísmo se os guardarmos no regaço que somos, pois esta maresia não aproveita a
mais ninguém.
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