2.10.12

Quem quer ser o Borges?


In http://comunidade.sol.pt/photos/rattingbones/images/2337091/425x289.aspx
Em qualquer lado é difícil a unanimidade do que quer que seja. Nem todos concordam com uma vivalma, ou dela todos discordam. Há sempre dissidentes. Por estes dias, o Borges consegue ser a exceção. Ninguém arrisca um dedo para assinar por baixo os disparates que o Borges lucubra. Nem do governo que o contratou. Dali, só o silêncio. Um silêncio que compromete. De resto, de um lado ao outro só esgares de desprazer, a total discordância do Borges quando perora sobre assuntos que acha que são da sua intelectual poda. Os sindicatos atiram-se ao Borges com a habitual fúria. Os empresários, descontando a fúria que é identidade sindical, também. Os partidos da esquerda erguem indignação contra a pesporrência do Borges. Os outros, até o que dá o lastro ao governo que o contratou, desdizem o Borges. Mas ai daqueles que colem o rótulo de “liberal” (ou, como mandam as modas, “neo-liberal”) ao Borges, que o Borges não sabe bem o que é – manda um liberal dizer, que discorda tanto e tantas vezes do Borges quanto aqueles que acham conveniente colá-lo ao liberalismo. A esses, uma reprimenda em forma de lição: ser liberal não é usar o Estado para favorecer interesses das grandes empresas amigas. Ser liberal, radical liberal, é a dieta do Estado. Neste momento, os habituais tutores das teorias da conspiração têm uma tirada na ponta da língua: “menos Estado dá lugar às empresas; logo, o desmantelamento do Estado traz as empresas para o lugar ocupado pelo Estado”. Um radical liberal não vê mal nenhum na substituição. Aceitem os do outro lado que é ideia legítima. Mas o radical liberal não está ao lado do Borges se este quer meter, antes do tempo, empresas “amigas” onde ainda existe Estado. Esta intimidade é insalubre. Tão mal anda o Borges como as empresas que se movem nos bastidores para obterem favores dos amigos semeados no poder. Isso não é liberalismo. Não é ideologia alguma. É apenas uma vergonha. E o Borges, se houvesse espelhos lá em casa, diante de tanta gente (quase toda) a escarnecer dele, o melhor que fazia era emalar os pertences e procurar exílio dourado num banco qualquer. De preferência nos antípodas.

Sem comentários: