In http://comunidade.sol.pt/photos/rattingbones/images/2337091/425x289.aspx
Em qualquer lado é difícil a
unanimidade do que quer que seja. Nem todos concordam com uma vivalma, ou dela todos
discordam. Há sempre dissidentes. Por estes dias, o Borges consegue ser a
exceção. Ninguém arrisca um dedo para assinar por baixo os disparates que o
Borges lucubra. Nem do governo que o contratou. Dali, só o silêncio. Um
silêncio que compromete. De resto, de um lado ao outro só esgares de desprazer,
a total discordância do Borges quando perora sobre assuntos que acha que são da
sua intelectual poda. Os sindicatos atiram-se ao Borges com a habitual fúria.
Os empresários, descontando a fúria que é identidade sindical, também. Os
partidos da esquerda erguem indignação contra a pesporrência do Borges. Os outros,
até o que dá o lastro ao governo que o contratou, desdizem o Borges. Mas ai
daqueles que colem o rótulo de “liberal” (ou, como mandam as modas,
“neo-liberal”) ao Borges, que o Borges não sabe bem o que é – manda um liberal
dizer, que discorda tanto e tantas vezes do Borges quanto aqueles que acham
conveniente colá-lo ao liberalismo. A esses, uma reprimenda em forma de lição:
ser liberal não é usar o Estado para favorecer interesses das grandes empresas
amigas. Ser liberal, radical liberal, é a dieta do Estado. Neste momento, os
habituais tutores das teorias da conspiração têm uma tirada na ponta da língua:
“menos Estado dá lugar às empresas; logo,
o desmantelamento do Estado traz as empresas para o lugar ocupado pelo Estado”.
Um radical liberal não vê mal nenhum na substituição. Aceitem os do outro lado
que é ideia legítima. Mas o radical liberal não está ao lado do Borges se este
quer meter, antes do tempo, empresas “amigas” onde ainda existe Estado. Esta
intimidade é insalubre. Tão mal anda o Borges como as empresas que se movem nos
bastidores para obterem favores dos amigos semeados no poder. Isso não é
liberalismo. Não é ideologia alguma. É apenas uma vergonha. E o Borges, se
houvesse espelhos lá em casa, diante de tanta gente (quase toda) a escarnecer
dele, o melhor que fazia era emalar os pertences e procurar exílio dourado num
banco qualquer. De preferência nos antípodas.
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