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(Com serventia para os dias sufocantes
que vão correndo, tão lentos)
Acreditemos. Na bondade dos outros. Recusemos vê-los
como o lugar onde se acoita uma alcateia feroz. Acreditemos nos instintos,
avancemos sem cuidar das feridas por lamber. Confiemos nos quadros que nos
pintam. Nos que vêm ungidos com cores garridas e nos outros, mais abundantes,
luto ao porvir que a poucos contenta. Confiemos nos diagnósticos perfeitos que
adivinham as intenções de um punhado que se destaca quando as crises adejam,
incessantes. Às vezes, convém torcer as verdades para elas rimarem com as ideias
que transitam no bornal. Não capitulando, porém, às serenatas enegrecidas que
desfiam o rosário das iniquidades – como se os superiores fossem todos malvados
e fadassem ao empobrecimento quem não é da sua casta. É o estar bem com deus e
com o diabo, para haver um aliado útil qualquer que seja o cenário triunfante.
Acreditemos nas patranhas que nos contam. Os seus fautores precisam de
comiseração. E a piedade há de merecer recompensa. Se não divina, pelo menos
espiritual. Sejamos otimistas antropológicos. Olhemos por cima do ombro, lá à
frente onde se resguardam os vestígios do tempo futuro, e cantemos as trovas
que compõem os porvires radiosos. Nem que tenhamos de beber ao mesmo tempo as
profecias hagiográficas dos que encontram vestígios de otimismo e os oráculos
dos outros, mais numerosos, que percutem um céu denso e negro à medida que
passam os dias da inquietação. E nunca por nunca nos alistemos num dos lados. Pois
esse pode ser o lado derrotado. Depois sobra o ostracismo e todo um chão árido
repousando sob os nossos pés. E as dores dos arrependimentos (uma das maiores
inutilidades). Não queiramos experimentá-las. Queiramos ser como os bonecos que
são títeres arqueando-se de um lado para o outro, sem se comprometerem com um
dos lados. A não ser quando se destapar o véu das incógnitas e um dos lados
triunfar.
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