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Sabes? Julgamos o tempo pelo desgaste
que nos amacia. Há um sortilégio escondido nos relógios que habilitam o tempo
futuro. Todos os ontem que o foram, devolvemo-los ao efémero, deixamo-los na
letargia de um passado sem feição. Esses ontem estão guardados algures, são a
caução do que fomos lá atrás. Mas não podemos resgatar desse tempo nenhuma
quimera. Se há quimera em que podemos meter as mãos, é no amanhã que tem lugar
para nós. Assim o saibamos fazer, assim saibamos deitar as pétalas perfumadas
no regaço onde fazemos o tempo que, de amanhãs feitos, será por nós feito. Não
o apressamos, porque os tutores dos relógios que medem a cadência somos nós.
Nós, que plantamos as flores e que as fazemos crescer viçosas, até nos áridos
areais; nós, que trauteamos as melodias que são hinos à plenitude; nós, que
sitiamos um recanto e o fazemos medrar. E são tantas as pessoas que passam à
nossa volta, tantas as pessoas que remetem as palavras que, todavia, soam a
ininteligível. Porque estamos ocupados com o tempo que nos sai das algibeiras, a
chuva de outono que vem ungir o chão, o vento que nos abraça os rostos.
Enquanto ajuramentamos os amanhãs que queremos. Possam os olhos marejados saldar
os sobressaltos que esvoaçam do tempo pretérito. Possam os olhos metê-los num
vão, negar-lhes a pomposa perenidade que julgam ser sua. São o estertor dos
ontem que ficaram emoldurados na inércia do tempo que o já foi. Os amanhãs, os
deslumbrantes amanhãs que sabemos compor, são o mar, eriçado ou sereno – mas sempre
belo – diante dos nossos olhos. Somos maestros das coisas que nos são tudo.
Esse amanhãs é que nos deixam as mãos trémulas só de sabermos que é ali, mesmo
nas mãos todas, que eles se depõem. Os amanhãs sussurram um encanto. Que as
nossas mãos não os queiram deixar partir antes do tempo.
1 comentário:
arrepiadoramente* verdadeiro...
*arrepia[DOR](e) a mente
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