1.10.12

Um monumento à boçalidade


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Erga-se. Com subscrição pública. Aos espertalhões que singraram sem mérito. Aos autarcas adestrados no caciquismo local, com os dedos aferroados nos cordelinhos que suportam as clientelas que os suportam a eles, numa lobotomia cíclica. Aos homens de negócios com o tirocínio dos métodos que roçam o despautério, traficantes de conhecimentos e branqueadores de capitais envergonhados, passeando a pesporrência de quem veio do nada e se fez poderoso. Aos títeres que abrem os corredores entre a política e os negócios, penhores da baixa política e dos negócios sem escrúpulos. Aos pequenos suseranos que mantêm impérios notáveis, à maneira como estão à mesa em contravenção das boas ordenanças da etiqueta, cuspindo perdigotos e arrancando, com a unha mindinha, as sobras do bife encravadas num dente cariado. Aos padres que se confundem com gente de sindicatos, lavando a honra envergonhada da igreja cúmplice da abastança. Aos jovens com visão periférica invejável, que começam carreira nas associações estudantis e prosseguem nas jotas partidárias e depois na assessoria do ministério. Aos fadistas que envergam a lauta linhagem das boas famílias da linha de Cascais e mais não sabem mostrar. Aos que se ufanam da batota que praticam, cientes que a lei não vai atrás deles (rabos de palha com gente colocada nos sítios certos), passeando a soberba em forma de bólides desportivos, pesadas pulseiras de ouro e horrenda fatiota com etiqueta de estilista ainda dependurada na manga direita. Aos políticos sem memória. Aos desterrados que ainda bem que o foram. Aos músicos horizontais, remexendo a crosta de suor fétido de quem compra seus discos. Aos desportistas que ruminam na ausência de fair play. Aos funcionários que julgam que os utentes são seus serviçais. A uma bandeira enorme que esconde as vergonhas tão à mostra e, todavia, sudário de uma memória coletiva que parece hipnotizada. Erga-se o monumento com ajuda de subscrição pública, que o exército dos que se reveem no estereótipo são uma multidão ansiosa por meter a mão na próxima vantagem grotesca.

1 comentário:

Cláudia disse...

Arre, que hoje acordaste inspirado!
Subscrevo e, já agora, mandem forrar o garrafão a naperons Joana Vasconcelos para o kitch nacional ficar no seu melhor!