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Erga-se. Com subscrição pública. Aos
espertalhões que singraram sem mérito. Aos autarcas adestrados no caciquismo
local, com os dedos aferroados nos cordelinhos que suportam as clientelas que
os suportam a eles, numa lobotomia cíclica. Aos homens de negócios com o
tirocínio dos métodos que roçam o despautério, traficantes de conhecimentos e branqueadores
de capitais envergonhados, passeando a pesporrência de quem veio do nada e se
fez poderoso. Aos títeres que abrem os corredores entre a política e os
negócios, penhores da baixa política e dos negócios sem escrúpulos. Aos
pequenos suseranos que mantêm impérios notáveis, à maneira como estão à mesa em
contravenção das boas ordenanças da etiqueta, cuspindo perdigotos e arrancando,
com a unha mindinha, as sobras do bife encravadas num dente cariado. Aos padres
que se confundem com gente de sindicatos, lavando a honra envergonhada da
igreja cúmplice da abastança. Aos jovens com visão periférica invejável, que
começam carreira nas associações estudantis e prosseguem nas jotas partidárias
e depois na assessoria do ministério. Aos fadistas que envergam a lauta
linhagem das boas famílias da linha de Cascais e mais não sabem mostrar. Aos
que se ufanam da batota que praticam, cientes que a lei não vai atrás deles
(rabos de palha com gente colocada nos sítios certos), passeando a soberba em
forma de bólides desportivos, pesadas pulseiras de ouro e horrenda fatiota com etiqueta
de estilista ainda dependurada na manga direita. Aos políticos sem memória. Aos
desterrados que ainda bem que o foram. Aos músicos horizontais, remexendo a
crosta de suor fétido de quem compra seus discos. Aos desportistas que ruminam
na ausência de fair play. Aos
funcionários que julgam que os utentes são seus serviçais. A uma bandeira
enorme que esconde as vergonhas tão à mostra e, todavia, sudário de uma memória
coletiva que parece hipnotizada. Erga-se o monumento com ajuda de subscrição pública,
que o exército dos que se reveem no estereótipo são uma multidão ansiosa por
meter a mão na próxima vantagem grotesca.
1 comentário:
Arre, que hoje acordaste inspirado!
Subscrevo e, já agora, mandem forrar o garrafão a naperons Joana Vasconcelos para o kitch nacional ficar no seu melhor!
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