In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPCnm4Ltv-fjTAVzF6CRdSuAH6to15Jb1fTbqzXOEs5aBcCBu1UiLHYNHzAh33YuGEBYFjV84ym4YO5b5zn0ihyphenhyphenyums8IObRbfpiHIG2kz0ABV4-L-atTn4HtR3iqaVhZ1SCQ/s400/Atenas+a+ferro+e+fogo.jpg
Acordo quando calha. Não há agenda que
me valha. Os relógios são todos da mesma igualha. E eu, que combato pela
justiça social, que arqueio o corpo pelas causas que arremetem contra os porcos
capitalistas, se preciso junto-me à maralha. Sempre é preferível àquela
gentalha. A do capitalismo frenético, que corrompe os governos e os convence a
descer a ira com impostos e mais impostos onde o povo arde em fornalha. Não vos
digo de onde vêm os meus réditos, para não dar corda à estardalha. Chegam para
o apartamento partilhado, a comida biológica, os andrajos com que me orgulho de
aparecer na pantalha. Sou ativista, leio e penso muito, mas apenas as páginas
que me cheirem à liberdade de que eu gosto, não leio palha. Ando com o
“Liberdade” do camarada Sérgio Godinho em constante audição intelectual, fujo
da música que abestalha. Excito-me com a arte experimental, o teatro de rua que
provoca transeuntes, a pintura em murais que desafiam a propriedade privada e a
performance que baralha. Já atirei ovos podres a ministros, já parti montras de
lojas multinacionais, já cravei punhais em pneus de luxuosos automóveis, cuspo
para o chão quando me cruzo com um engravatado, detesto essa canalha. E de uma
vez, em transe, fui às escadas do parlamento e ao ver aquele deputado tão
apessoado atirei-lhe com uma molhada toalha. Conspiro com os meus companheiros
contra os vícios do sistema que asfixia os desvalidos enquanto enrolo a
mortalha. Saio à rua e picho as paredes com ares de revolução, pinto a manta e
finto a polícia, voo estouvada de rua em rua em pose de pirralha. Vou às
manifestações todas, as dos sindicatos e as que têm o selo independente,
protesto, vocifero, aplaudo, levanto os braços, percuto as panelas e, se preciso
for, mostro as maminhas despojando-me da vitualha.
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