In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFSwfP-aboQ-BbpRYgCI1A-TX_zmjkX5HFt3soNvEOInKQ7jcyt1RQOHuS1T7WWszK_N4OQV-F6kL-lJep3VLf7pYNkx9WpdwY7ZusHlRsGQF_O0nWQOVNkgO7upb44vzzAnVP/s1600/NEGOCIAÇÃO+2.jpg
Tinha andado pelos negócios.
Virou-se, anos mais tarde, para a diplomacia. Mudou de vida, mas manteve a
mesma falta de destreza na hora de negociar. Quando pertencera aos negócios,
tratou de arrumar uns quantos, para exasperação dos respetivos donos que o
tinham mandatado para rendosos proventos. Ao darem conta dos termos dos
negócios firmados pelo negociante, depressa deitavam as mãos à cabeça. Não
percebiam a falta de diligência, ou o que os mais generosos apenas tinham como incapacidade.
Muitas vezes, não precisavam de esperar pelo diferimento do tempo para sentirem
a catástrofe material a apoquentar as finanças das empresas. Os donos dos
negócios ficavam perplexos. Como podia tamanho parlapatão, que os levara no
engodo como se um feitiço fosse, ser depois ludibriado, infantilmente
ludibriado, por outros que com ele contracenavam na negociação?
Banido da negociação dos negócios,
serviu-se dos estudos, da fanfarronice e dos numerosos conhecimentos na alta
roda da decisão para mudar de vida. Atirou-se à diplomacia. Rasurou o curriculum para ocultar os negócios por
onde tinha passado e que tinham sido, mercê da sua incúria, negócios
arruinados. Deixou ficar algumas pertenças, pois tinha, para efeitos oficiais,
de deixar alguma peugada para justificar a prebenda no ministério. Depressa o
encarregaram de embaixadas vultuosas. Os pergaminhos iam no mau sentido, a não
ser que por pergaminhos se contassem também as janelas que se abriam de par em
par com a diligente palavra de um conhecimento fulcral.
Mudou de vida. Continuou a teimar na
falta de desembaraço para a negociação. Quando entregava o dossier ao ministro para aposição da competente assinatura, já não
podia o ministério voltar atrás. Não tinha remédio: só ele não conseguia
discernir as malfeitorias, involuntárias malfeitorias, que desancava na pátria
que agora representava no papel de negociador. Houve negócios que voltaram a
falir por causa dele, pois não soube negociar bons acordos de comércio.
Demorou até que nem os fulcrais
conhecimentos fossem sua caução. Era mau de mais para alguém lhe dar crédito. Foi
banido, primeiro do ministério, depois da negociação em geral. Com a fama
devastada, já não havia lugar nenhum para continuar a ser negociador. Todos
ficaram a ganhar. Perdeu-se o pior negociador de todos. Até que se descobriu
que andava pelas universidades a destilar conhecimentos sobre diplomacia.