4.12.13

A boçalidade é masculina

In http://misteriosdacriacao.files.wordpress.com/2009/12/neandertal.jpg
A frequência de balneários é uma pedagogia. Quem não conseguir fazer de conta que não escuta as conversas, não foge ao empanturrar de lições da masculina boçalidade. Ele são ainda os jovens que cavalgam nas hormonas e destilam sapiência na arte da sedução (quando a sedução rima com soez humilhação das parceiras, habituais ou ocasionais). E ele são os mais velhos, os que não andam longe da andropausa e os que já lá habitam, de pergaminhos certificados no meio social, mas exímios na linguagem de caserna.
Talvez o defeito meu seja não entender por que um membro da masculina confraria tem de exibir galões de boçalidade. Ou, se calhar, os balneários estão contaminados com um vírus que desembainha o desbocamento dos machos que, através de linguagem desbragada e de ideias primatas, alardeiam a certidão marialva. Que os mais jovens, ainda na borbulhagem das hormonas salivares e sitiados por uma indigência mental risível, o façam, é um naco de imaturidade a bolçar no seu próprio refluxo. Que a diarreia boçal seja vociferada por senhores aparentemente bem postos (retirado do contexto das conversas de que fui involuntária testemunha), é porque estes senhores, empresários impecáveis, também transitam na ignorância contumaz, ou, em o não sendo, sentem uma irreprimível pulsão pélvica e o discurso desce ao nível do lugar onde eram segregadas as hormonas viris.
E esta gente ufana-se de fazer de cada mulher um objeto apenas. Vangloria-se de proezas talvez idas – e talvez por isso se vanglorie, para resgatar ao passado memórias que são uma evocação trazida para o impotente presente. É a mesma gente que me faz acreditar na necessidade de sindicatos (assegura-o quem desvaloriza a existência de sindicatos), tamanha a sobranceria que cola aos patrões a pior das conotações. Se a linguagem de caserna é imperativo de socialização, como credencial que só depois de emitida admite o candidato à conversa da tribo, prefiro a solidão de género.
Os outros, os que querem admissão à tribo lorpa, por contágio, dão a sua achega para o rosário de boçalidades. Que, de tantas serem, deixa no ar um odor a latrina.

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