31.12.13

O pior dos negociadores

In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFSwfP-aboQ-BbpRYgCI1A-TX_zmjkX5HFt3soNvEOInKQ7jcyt1RQOHuS1T7WWszK_N4OQV-F6kL-lJep3VLf7pYNkx9WpdwY7ZusHlRsGQF_O0nWQOVNkgO7upb44vzzAnVP/s1600/NEGOCIAÇÃO+2.jpg
Tinha andado pelos negócios. Virou-se, anos mais tarde, para a diplomacia. Mudou de vida, mas manteve a mesma falta de destreza na hora de negociar. Quando pertencera aos negócios, tratou de arrumar uns quantos, para exasperação dos respetivos donos que o tinham mandatado para rendosos proventos. Ao darem conta dos termos dos negócios firmados pelo negociante, depressa deitavam as mãos à cabeça. Não percebiam a falta de diligência, ou o que os mais generosos apenas tinham como incapacidade. Muitas vezes, não precisavam de esperar pelo diferimento do tempo para sentirem a catástrofe material a apoquentar as finanças das empresas. Os donos dos negócios ficavam perplexos. Como podia tamanho parlapatão, que os levara no engodo como se um feitiço fosse, ser depois ludibriado, infantilmente ludibriado, por outros que com ele contracenavam na negociação?
Banido da negociação dos negócios, serviu-se dos estudos, da fanfarronice e dos numerosos conhecimentos na alta roda da decisão para mudar de vida. Atirou-se à diplomacia. Rasurou o curriculum para ocultar os negócios por onde tinha passado e que tinham sido, mercê da sua incúria, negócios arruinados. Deixou ficar algumas pertenças, pois tinha, para efeitos oficiais, de deixar alguma peugada para justificar a prebenda no ministério. Depressa o encarregaram de embaixadas vultuosas. Os pergaminhos iam no mau sentido, a não ser que por pergaminhos se contassem também as janelas que se abriam de par em par com a diligente palavra de um conhecimento fulcral.
Mudou de vida. Continuou a teimar na falta de desembaraço para a negociação. Quando entregava o dossier ao ministro para aposição da competente assinatura, já não podia o ministério voltar atrás. Não tinha remédio: só ele não conseguia discernir as malfeitorias, involuntárias malfeitorias, que desancava na pátria que agora representava no papel de negociador. Houve negócios que voltaram a falir por causa dele, pois não soube negociar bons acordos de comércio.
Demorou até que nem os fulcrais conhecimentos fossem sua caução. Era mau de mais para alguém lhe dar crédito. Foi banido, primeiro do ministério, depois da negociação em geral. Com a fama devastada, já não havia lugar nenhum para continuar a ser negociador. Todos ficaram a ganhar. Perdeu-se o pior negociador de todos. Até que se descobriu que andava pelas universidades a destilar conhecimentos sobre diplomacia.

Sem comentários: