30.12.13

A club of no more

In http://www.newmanchesterwalks.com/wp-content/uploads/2010/08/Underground-chasing-ghosts-Mark-Stuttard2.jpg
Uma sociedade secreta. Sem fins inconfessáveis. Nada colateral a espionagem. Apenas um clube escondido pelo segredo, as portas subterrâneas derivando da curiosidade normal. Composta por um pequeno grupo que perfilhava os mesmos ideais, a mesma cosmovisão. Sem rituais pueris, aventais ou coisas do género, nem religiosidades que depusessem a sua integridade. Reuniam-se quando calhava. Era só um deles puxar o gatilho da reunião, em linguagem cifrada – não que temessem que os serviços de espionagem estivessem de olho neles, que eram uma sociedade secreta e, todavia, inofensiva. A linguagem cifrada era o sinal de um encantamento, ele talvez pueril, pelo segredo. Não queriam que a sociedade deixasse de ser um segredo bem escondido. Não queriam. Apenas.
Eram só meia dúzia. Diziam que a pertença à sociedade era a melhor cura contra a velhice. Dava a ideia que a idade era um estreito manto a que os seus corpos se conseguiam furtar. Cultivavam o passado, sem vergonha de que o passado pudesse travar o passo às novidades que vinham no trânsito do tempo presente. Até porque sabiam que só fazia sentido entoar saudades do tempo que ainda estava por vir.
Um certo dia, um dos confrades pronunciou-se por o que nunca tinha sido tema: podia a sociedade abrir-se a sangue novo? Um deles questionou se o sangue novo significava novas pertenças. Se deixariam de ser meia dúzia. Era tabu sem nunca o ter sido. Era como se um implícito código de conduta pusesse pesada sepultura no assunto. De tal modo que nunca fora falado. Até àquele dia. Os restantes cinco não fingiram incómodo. Um deles, mais célere na reação, interrogou por que haveriam de mudar se até então a sociedade fora tão perfeita no funcionamento. Correriam, talvez, o risco de desintegração se o novo membro (ou os novos membros, que a proposta ainda não tivera sido retalhada) não entendesse o código de honra e não soubesse ler nas entrelinhas dos olhares, como eles estavam habituados.
Quem atirou o assunto para cima da mesa indagou se eles eram tão conservadores. A confusão veio à boca de cena. Quase todos os outros recusavam a companhia do conservadorismo, fosse de que estirpe fosse. Naquela noite, a reunião acompanhou as horas que faziam companhia à noite. Leais aos princípios da carta de intenções que tinham assinado há trinta anos, decidiram nada decidir naquele fim de noite. Sabiam que só a vontade de todos podia aceitar o assunto na reunião que viesse a seguir. A ser aceite o assunto, o novo membro (ou os novos membros, depois se veria) só podia entrar na sociedade se todos o aceitassem.
Cinco meses depois, ao cabo de um silêncio sepulcral de quase todos, como se fossem contumazes do assunto, marcaram a reunião. O assunto não o chegou a ser. Aquela era uma sociedade fechada. Extinguir-se-ia assim que dos fundadores sobrasse apenas um sobrevivente. Os outros cinco decidiram, com aquiescência de quem propusera a mudança, lavrar em ata que a sociedade repudiava o catecismo conservador (significasse o que isso pudesse significar).

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