In http://painatal.info/wp-content/uploads/2011/05/guardanapo-para-decoupage-com-coelhinho-vestido-para-o-Natal.jpg
Não é preparo meu ser
desmancha-prazeres e desfazer o natal por que as criancinhas tanto suspiram. Mas
há símbolos do natal que escondem perigosas mensagens de lascívia, para as
quais, como é sabido, os meninos e as meninas de tenra idade não estão preparados.
É outro trunfo dos incansáveis críticos do capitalismo, pois o natal – também é
do conhecimento comum – foi colonizado pelos imperativos do consumismo estéril
que agrada aos grandes capitalistas que vendem o útil e o inútil, convencendo
as gentes que o espírito natalício depende da generosa capacidade de vender,
pois só assim é possível dar.
Mas o natal tem insidiosas mensagens
codificadas. O coelhinho de natal é um ultraje à moral e aos bons costumes. Não
se sabe se o coelhinho aparece sem género, ou se o género masculino esconde a
generalização (contra a qual feministas e bem pensantes tanto combatem) que irmana,
gramaticalmente falando, masculino e feminino. Em havendo algumas coelhinhas
ali misturadas, podem algumas ser avatares das coelhinhas que aparecem
fotografadas numa famosa revista de mulheres nuas tão do agrado de camionistas,
trolhas, solitários incorrigíveis e misóginos. Através do natal, os meninos são
formatados, desde tenra idade, para a impudicícia dos corpos desnudados e da
coisificação da mulher. O natal é o prolongamento do hedonismo que desagrada às
igrejas que o celebram.
A figura do pai natal remói o
imaginário dos adultos que convocam a criatividade quando as hormonas entram em
ebulição. O vermelho da fatiota quadra com a lingerie vermelha que, dizem os
entendidos, é sinal de luxúria abundante. Já houve publicidade que retratava o
velho S. Nicolau rodeado de juvenis e esbeltas raparigas, todas em trajes
menores que combinavam com as cores do traje oficial do pai natal. Vendo o ar
ufano do velho Nicolau, sem ser capaz de esconder um trejeito maroto, não é
preciso ir às catacumbas da hermenêutica para se lucidar que o velho parou na
farmácia e abasteceu-se dos comprimidos que fazem o milagre do apetite sexual
em idades que outrora já estavam em sopas de cavalo cansado.
Nunca se sabe se o natal não vem a
ser interditado um dia destes. Ou, em não havendo tanta radicalidade, podem ser
reinventados os símbolos do natal. Assim como assim, foi proibido em vários
países um calendário expondo hospedeiras de uma companhia de aviação em sugestivas
poses enquanto se mostram quase como ao mundo foram legadas por quem as pariu.
Não vão os petizes começar a ter apetites precoces e os graúdos pensamentos
pecaminosos que se encaixam noutra sinalética da quadra: as renas, que
distribuem felicidade pelos meninos e meninas à espera do natal generoso, e
respetiva armadura que faz de radar durante o voo dos bichos.
O natal que se cuide, que um dia destes fica à mercê dos cultores da existência assética.
O natal que se cuide, que um dia destes fica à mercê dos cultores da existência assética.
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