17.12.13

O natal é lúbrico

In http://painatal.info/wp-content/uploads/2011/05/guardanapo-para-decoupage-com-coelhinho-vestido-para-o-Natal.jpg
Não é preparo meu ser desmancha-prazeres e desfazer o natal por que as criancinhas tanto suspiram. Mas há símbolos do natal que escondem perigosas mensagens de lascívia, para as quais, como é sabido, os meninos e as meninas de tenra idade não estão preparados. É outro trunfo dos incansáveis críticos do capitalismo, pois o natal – também é do conhecimento comum – foi colonizado pelos imperativos do consumismo estéril que agrada aos grandes capitalistas que vendem o útil e o inútil, convencendo as gentes que o espírito natalício depende da generosa capacidade de vender, pois só assim é possível dar.
Mas o natal tem insidiosas mensagens codificadas. O coelhinho de natal é um ultraje à moral e aos bons costumes. Não se sabe se o coelhinho aparece sem género, ou se o género masculino esconde a generalização (contra a qual feministas e bem pensantes tanto combatem) que irmana, gramaticalmente falando, masculino e feminino. Em havendo algumas coelhinhas ali misturadas, podem algumas ser avatares das coelhinhas que aparecem fotografadas numa famosa revista de mulheres nuas tão do agrado de camionistas, trolhas, solitários incorrigíveis e misóginos. Através do natal, os meninos são formatados, desde tenra idade, para a impudicícia dos corpos desnudados e da coisificação da mulher. O natal é o prolongamento do hedonismo que desagrada às igrejas que o celebram.
A figura do pai natal remói o imaginário dos adultos que convocam a criatividade quando as hormonas entram em ebulição. O vermelho da fatiota quadra com a lingerie vermelha que, dizem os entendidos, é sinal de luxúria abundante. Já houve publicidade que retratava o velho S. Nicolau rodeado de juvenis e esbeltas raparigas, todas em trajes menores que combinavam com as cores do traje oficial do pai natal. Vendo o ar ufano do velho Nicolau, sem ser capaz de esconder um trejeito maroto, não é preciso ir às catacumbas da hermenêutica para se lucidar que o velho parou na farmácia e abasteceu-se dos comprimidos que fazem o milagre do apetite sexual em idades que outrora já estavam em sopas de cavalo cansado.
Nunca se sabe se o natal não vem a ser interditado um dia destes. Ou, em não havendo tanta radicalidade, podem ser reinventados os símbolos do natal. Assim como assim, foi proibido em vários países um calendário expondo hospedeiras de uma companhia de aviação em sugestivas poses enquanto se mostram quase como ao mundo foram legadas por quem as pariu. Não vão os petizes começar a ter apetites precoces e os graúdos pensamentos pecaminosos que se encaixam noutra sinalética da quadra: as renas, que distribuem felicidade pelos meninos e meninas à espera do natal generoso, e respetiva armadura que faz de radar durante o voo dos bichos.

O natal que se cuide, que um dia destes fica à mercê dos cultores da existência assética.

Sem comentários: