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A maior coragem é uma forma
de covardia.
Dizem, os arcanos da verdade
(sem saberem que a verdade não existe), que os lugares são inamovíveis. Que
pertencemos a um lugar, mesmo que dele deixemos de ser quando os pertences se
mudam para lugar diferente. As raízes não capitulam, por mais que seja o
nomadismo. E, contudo, podem as luas compor-se de todas as formas e feitios,
podem os sóis percorrer o seu trajeto, podem as palavras embuçar-se em seus
múltiplos sentidos, podem as pessoas ser viajantes do tempo e do espaço (de um
tempo e de um espaço), que os lugares mudam quando os corpos acompanham a
jornada mental que a alma empreende.
As irmandades que conservam
costumes contestam o inconformismo que se debate com o entorpecimento. Preferem
conservar o que conhecem, talvez com medo de experimentarem o incógnito. Estas
irmandades instam as raízes a meterem suas ramificações na terra fecunda onde,
fundos, nidificam os nutrientes que são a âncora que firma o corpo a um lugar.
Sussurram, continuadamente, para não irem de abalada; para não deixarem ir de
abalada o corpo transumante. Só que depois o corpo desenvolve outras
ramificações, procura outras raízes no lugar diferente onde aportou. E as
raízes primeiras enciúmam-se, debatem-se em sua solidão, porventura adoecem à
medida que a água deixa de alimentar suas ramificações. E por isso os que
conservam costumes apelam, com voz lancinante, para não ser apressada a
partida.
Aos olhos insaciáveis, o
lugar mesmo é um ermo do tamanho de um cárcere. As algemas transpiram a pele,
do medonho pensar na prostração de um lugar mesmo para tempo de mais. O mundo
já é pequeno. Mais pequeno o tempo que os mortais têm para aprender as cores
diferentes dos tantos lugares em que se decompõe o mundo pequeno. Não partir é
a maior covardia. As bandeiras hasteadas na conformidade do sempre emprestam
exiguidade à existência.
Às vezes, a coragem de
arregimentar tradições, de as perpetuar como legado para os vindouros, é um
pretexto para a covardia dos lugares diferentes. Desconhecem, os seus tutores,
que o pequeno mundo é um mundo ainda mais pequeno mercê da estreiteza dos
limites das paredes em que se movem.
2 comentários:
A "razão", esse fantasma desencorajado, sempre a julgar as divagações da imaginação.
Fitamos os olhos no infinito. Queremos ir mais além, desvendar não sei o quê, deambular serenamente.
As janelas dos muros são falsas, dão para vista nenhuma. Não podem ditar a dimensão da distância e do tempo. Quando assim acontece ... os olhos mentem o perto ...
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