25.4.13

Don’t walk away


In http://sarablogs.com.br/bispalucia/files/raiz-forte-blog-da-bispa-lucia.jpg
A maior coragem é uma forma de covardia.
Dizem, os arcanos da verdade (sem saberem que a verdade não existe), que os lugares são inamovíveis. Que pertencemos a um lugar, mesmo que dele deixemos de ser quando os pertences se mudam para lugar diferente. As raízes não capitulam, por mais que seja o nomadismo. E, contudo, podem as luas compor-se de todas as formas e feitios, podem os sóis percorrer o seu trajeto, podem as palavras embuçar-se em seus múltiplos sentidos, podem as pessoas ser viajantes do tempo e do espaço (de um tempo e de um espaço), que os lugares mudam quando os corpos acompanham a jornada mental que a alma empreende.
As irmandades que conservam costumes contestam o inconformismo que se debate com o entorpecimento. Preferem conservar o que conhecem, talvez com medo de experimentarem o incógnito. Estas irmandades instam as raízes a meterem suas ramificações na terra fecunda onde, fundos, nidificam os nutrientes que são a âncora que firma o corpo a um lugar. Sussurram, continuadamente, para não irem de abalada; para não deixarem ir de abalada o corpo transumante. Só que depois o corpo desenvolve outras ramificações, procura outras raízes no lugar diferente onde aportou. E as raízes primeiras enciúmam-se, debatem-se em sua solidão, porventura adoecem à medida que a água deixa de alimentar suas ramificações. E por isso os que conservam costumes apelam, com voz lancinante, para não ser apressada a partida.
Aos olhos insaciáveis, o lugar mesmo é um ermo do tamanho de um cárcere. As algemas transpiram a pele, do medonho pensar na prostração de um lugar mesmo para tempo de mais. O mundo já é pequeno. Mais pequeno o tempo que os mortais têm para aprender as cores diferentes dos tantos lugares em que se decompõe o mundo pequeno. Não partir é a maior covardia. As bandeiras hasteadas na conformidade do sempre emprestam exiguidade à existência.
Às vezes, a coragem de arregimentar tradições, de as perpetuar como legado para os vindouros, é um pretexto para a covardia dos lugares diferentes. Desconhecem, os seus tutores, que o pequeno mundo é um mundo ainda mais pequeno mercê da estreiteza dos limites das paredes em que se movem.

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

A "razão", esse fantasma desencorajado, sempre a julgar as divagações da imaginação.
Fitamos os olhos no infinito. Queremos ir mais além, desvendar não sei o quê, deambular serenamente.
As janelas dos muros são falsas, dão para vista nenhuma. Não podem ditar a dimensão da distância e do tempo. Quando assim acontece ... os olhos mentem o perto ...