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Os saldos serviam para vender
tudo. A decadência voltava-se contra os mastins do consumo, agora que o erário
das famílias se esconjurava da plástica abundância de outrora. Iam os anéis e,
não tardava muito, debandavam os dedos também. A decadência era uma imagem de
destroços, como se as casas envelhecessem depressa e mostrassem a pintura
desbotada, os pedaços de parede que tinham caído, a sumptuosidade que decaía na
monstruosidade do agora.
Havia pessoas, muitas
pessoas, que proclamavam o desânimo do tempo que estava para vir. Era como se
os dias tivessem alvoradas negras e os olhos das pessoas encarassem,
envergonhados, o chão pútrido onde se apoucavam ainda mais. Os intelectuais,
sempre diligentes no destapar de um oráculo medonho, juntavam o seu muito
autorizado fermento ao estado coletivo de depressão. Pressagiavam tempestades
como não haveria memória, um inverno demorado que condenaria os desvalidos à dolorosa
extinção. Os espíritos andavam alquebrados, o sorriso emigrara dos rostos das
pessoas, numa contaminação que passava de boca em boca, que tingia uma multidão
com as dores de um porvir que seria danado.
Foi quando se soube que as
luas estavam à venda. Ao princípio, os poetas debitaram acrimónia – assim como
assim, protestavam, como iriam encontrar tamanha musa para ensaiarem seus
versos. Mas os poetas couberam nos prantos do pragmatismo. Despojaram-se da sua
silhueta centrípeta e perceberam que não eram o umbigo do mundo, quando alguém
lhes lembrou que os poetas devem ser esteio dos miseráveis. E se a venda das
luas tinha o préstimo de convocar réditos para compor as finanças caóticas,
houvesse um, ou mais, magnatas, do petróleo ou dos países em ascensão, que
viesse arrebatar as luas já sem serventia. A emergência assim mandava. No
final, recolhido o alto patrocínio dos poetas e de outros feitores das artes
que reclamavam para si o papel de protetores das luas, haveria o povo inteiro
de entregar uma comenda pelo ato sensível.
Era o reavivar de uma
centelha franzina. Podia ser que os magnatas que arrematassem as luas as
deixassem por cá, enfeitando o céu, ou os outros lugares onde elas levitam.
Como se fosse um comodato. Perdíamos a propriedade, mas o seu uso mantinha-se
nosso. E os poetas, mais os artistas que louvores tecem às luas, continuariam a
encontrar subsídio para a sua arte. Todos saíam a ganhar. Os sorrisos,
devolvidos aos rostos afogueados dos habituados a sofrer. E as luas não seriam pretéritas no tempo futuro.
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