Na escola ouvi dizer que o
céu era azul quando o sol dissolvia as nuvens. Não acreditei. Porque em sonhos,
e os meus olhos confirmam os sonhos, o céu aparecia verde. Talvez porque ouvi
um professor dizer que o verde é a cor da esperança – mas noutro dia ouvi o meu
tio dizer, categórico, que isso de se dizer que o verde é cor da esperança é um
lugar-comum maçador.
Não me importo que se diga
que uma coisa poética seja um lugar-comum. Sempre ouvi a minha mãe protestar que
o meu tio tem a sensibilidade de um búfalo. Também não me interessa que os
outros meninos da escola trocem de mim porque numa composição pedida pela
professora de português descobri que o céu se tinge em tons de verde. Nos meus
sonhos mando eu. Neles só entra quem eu admito. O meu tio, que se baba quando
vê umas rapariguinhas colegiais em trajes estivais, e que não dá conta da sua
boçalidade quando se senta à mesa, conta tanto como um desconhecido que se
cruza comigo à saída do barbeiro. Aos outros meninos da escola, que me votaram
ao ostracismo quando revelei sensibilidade poética, deixo a barbárie do
comportamento. Porque para mim o céu é verde e ninguém me desconvence dessa
certeza. É verde quando está embaciado, é verde quando a noite se insinua e os
olhos acreditam que a escuridão tomou conta do verde do céu. É verde o céu
quando os meus olhos se anestesiam em sonhos. E continua verde quando eles se
desembaraçam do sonho e os pés aterram no chão. Também ele verde.
Que me digam que aprendi a
ser lunático com leituras que mais ninguém lê, ou que acordo para o dia com as
alucinações que os outros dizem ser minhas, é uma dor que não me oculta os
sonhos. Pois todos os dias olho ao céu e vejo tingido de verde, como se fosse
uma perene aurora boreal.
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