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Um astrolábio perene: a
medida de todas as medidas quando os pés não sabem se hão de teimar na inércia,
fugindo das arriscadas medidas, ou se cumprem os desideratos ousados e desafiam
o risco. O sobressalto maior não é pressentir que os pés ajuramentam passos
errados, o corpo já sem remédio atirado ao precipício. O sobressalto maior é
sentir o corpo em duas metades, uma atrevidamente convidando à ação arriscada,
outra cautelosamente advertindo dos riscos mal pesados.
O astrolábio é o limbo entre
dois tempos diferentes. Mede os contratempos assim conhecidos, trazendo do
tempo pretérito os riscos que ensinam. E perfuma a aragem que antecipa o tempo
vindouro, algemando a ação (ou o seu contrário) a um pressentimento que,
dir-se-ia, é um oráculo ajuizado. Na mediação entre os dois tempos, o
astrolábio é uma lente nem sempre atilada. Há alturas em que uma errância
desagua em certezas que escapam ao risco. Noutras, os passos certeiros
perdem-se na bruma matinal que embacia os olhares e os pés metem-se em atalhos
que o não pareciam ser. Nada é dado como certo. Nem o que parece tirar as
medidas do risco calculado, nem o que serve de ninho ao risco sem medida.
Um olhar por entre as cinzas
do tempo cauciona o cômputo da medida dominante. Admite que o olhar desmaiado
se entregou, talvez vezes de mais, aos braços do risco sem medida. E vezes de
mais o risco semeou dissabores que a lucidez podia acautelar. Se a lucidez
fosse medida atirada para os braços da decisão. Havia uma recusa liminar na indecisão,
todavia. Preferia as medonhas cicatrizes do risco, mesmo que o risco tivesse
dores dilacerantes, à indecisão. Quando amolecia na hesitação, os pés
arremetiam decididos pelo fogo fátuo do risco. Estes anos todos em forma de
diagnóstico tornavam luminosos os contratempos de permeio com as proezas.
Destas já não havia serventia, emolduradas num tempo de que já não havia medida
útil. Os contratempos serviam de medida para pesar os riscos em demanda
vindoura. Sempre na recusa da indecisão.
A idade deixava à mostra
outro olhar na ornamentação das resoluções atiradas para os amanhãs. O risco
pelo risco fora embalsamado. Pertencia à arqueologia pessoal. Doravante, o
risco estava em risco. Os pés não ousavam experimentar a intransigência do
risco sem medida.
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