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Fez-se luz sobre o sonho
molhado do senhor Aníbal: um “governo de salvação nacional”, com o seu elevado
patrocínio. O senhor Aníbal deve ter saudades dos tempos da união nacional.
Nessa altura é que todos devíamos pensar da mesma maneira. Agora, diante da
birra dos líderes dos partidos coligados, o senhor Aníbal encontrou o pretexto
(a cobro da crise e dos humores dos credores internacionais) para resgatar a
união nacional.
É pueril, a cultura
democrática do senhor Aníbal. É por estas e por outras que os economistas andam
tão mal vistos – o que me apoquenta, dada a minha costela economista. A outra
costela, a de politólogo, fica dorida quando atores políticos desvalorizam a
tolerância à diferença, o direito a mostrar diferentes opções para os
problemas. O senhor Aníbal prefere o “consenso”. E eu, quando vejo a palavra
“consenso” entoada numa enjoativa declinação, sinto-a como eufemismo para “pensamento
único”. Podem os adeptos do senhor Aníbal contrapor que não há alternativa. Ou
que a alternativa que existia (dando de barato que este governo de meninos
birrentos perdeu o chão para governar) era marcar eleições. E que eleições
agora é o pior dos males, com explicações mil que apenas servem para sequestrar
a opinião de quem a quer formar sem as peias dos temores assim vendidos.
Se o senhor Aníbal não queria
eleições agora, aproveitando-se para vir para o centro do palco e, de caminho,
vingar-se do líder do CDS (contas antigas), que deixasse o governo ir até ao
fim. Se há argumento que me ultrapassa, é o que reclama do senhor Aníbal o
papel de moderador. Para o particular dicionário das esquerdas, “moderador”
significa demitir o governo. As voltas saíram trocadas às esquerdas. A
extrema-esquerda ficou marginalizada pelo senhor Aníbal. A esquerda moderada,
ansiosa por voltar a deitar as mãos ao poder, e sabendo que as sondagens (e a
impopularidade do governo) correm de feição, também ficou dececionada com o senhor
Aníbal. Que terá julgado que os socialistas aceitariam queimar o capital de popularidade
de que gozam por via da “votação com os pés”, a que atira borda fora os que a
maioria se fartou de aturar. A recusa dos socialistas é sintomática do que mais
importa: táticas partidárias (e sede de poder). Não falem de “interesse nacional”.
Ao senhor Aníbal apeteceu-lhe
ser moderador na altura errada. Se há coligação com apoio no parlamento (apesar
dos humores voláteis dos líderes dos partidos coligados), não se percebem os
receios do senhor Aníbal. Bem entendido, que esta proclamação não me
arregimente como apoiante do governo que fenece, pois tal nunca aconteceu. O senhor
Aníbal quis ser árbitro. Invocou o “consenso”, atirando para as franjas os que
não dão para o peditório do consenso. E forçando partidos que são alternativa
um do outro ao entendimento, como se serem alternativa um ao outro deixasse de
ter importância. Acho mal. Até parece que os marginalizados são párias. Até
parece que não importa haver alternativa que se funda na diferença. Uma das
maiores virtudes da cultura da tolerância é aceitar discutir ideias com quem as
tem diferentes. E, se preciso for, convidar os tutores das diferentes ideias a
sufragá-las junto dos eleitores. Fugir disto é covardia. Ou sede de
protagonismo, assente em mal amanhados pretextos de urgência que sequestram o
livre arbítrio de quem é cidadão.
O senhor Aníbal não faz jus à
sinecura. É um erro de casting. E, ou
muito me engano, ou vai conseguir o efeito contrário das intenções que revelou.
Pois duvido que os credores confiem numa solução de “governo de salvação
nacional” que apenas resgata o senhor Aníbal para o centro do palco.
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