1.7.13

Luta de galos


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As cristas emproadas. Agigantam-se e afiam-se para cima, as cristas dos galos, quando encenam a pose de pistoleiros preparados para duelo de armas. Entreolham-se em pose paradoxal. Pois se parece que um se desinteressa do outro, que um dos olhos se recusa a fitar o adversário, ao mesmo tempo o olho restante não perde de mira o outro que não fica para traz no ritual varonil. Ali baralha-se a posse do território. Não chega para alojar os dois rivais. O que sair derrotado terá a contrassenha do exílio.
Cortejam-se um ao outro. A cabeça arqueia-se, para a crista engalanada pela pose viril ficar visível, intimidatória. Cada um dos galos não dá conta que a genética o atraiçoa. O comportamento de um é o retrato do comportamento do outro (ou o contrário, não interessa). Nenhum dos oponentes tem um trunfo de vantagem. Partem empatados. No ritual dos preliminares da agressividade máscula, a mímica de comportamentos sinaliza a venalidade dos que puxam os galões varonis.
A força, também bruta, vai resolver a pendência. Um dos galos toma a iniciativa de romper com a coreografia da intimidação. Faz uma investida, avançando destemido para o outro que já planeava dar o mesmo passo sem demora. Ataca com o bico treinado para a agressão, que serve de defesa dos possíveis predadores como serve para ser predador numa luta de pares. Engalfinham-se por entre uma nuvem de poeira e penas que se levantam entre as bicadas que os rivais se aplicam reciprocamente. Um dos galos aparece ensanguentado no dorso. O outro conseguiu, com a precisão de uma bicada, ferir o adversário. Não chegou para o enfraquecer. Com a ferida em carne viva, o galo enfurece-se e desqualifica o outro, que se convencera das favas contadas mal notou a mancha de sangue.
O galo que fugiu espavorido tomou decisão precoce de se meter a caminho do exílio. O galo triunfante nem teve tempo para temperar o sabor com o troféu. A ferida fora profunda e infetou. Uma infeção fulminante, sem cura possível. No velório do galo impante, as galinhas desfizeram-se em prantos de orfandade. O terreiro estava deserto (de galo). Temiam a deriva, as galinhas que, mercê da luta de galos, se fizeram devotas do que levou a palma.
Até que uma emergiu no meio do pranto coletivo e lembrou que há lugares onde são elas que mandam. A deriva, só se elas quisessem.

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