14.8.13

O táxi é um laboratório


In http://www.gestao-frotas.com/wp-content/uploads/2010/05/Táxi.jpg
Da imprensa dos últimos dias: o primeiro-ministro da Noruega disfarçado de taxista, com sugestivas imagens recolhidas dentro do táxi. E a imprensa, ingénua, a querer vender a sua própria ingenuidade ao cidadão comum, levando-lhe a ideia de que o primeiro-ministro norueguês quis ir para junto do povo medir o pulso à sua sensibilidade. Não ocorreu os cândidos jornalistas a existência de marketing político e um fenómeno típico da casta que é a demagogia.
Logo de seguida, insinuou-se que talvez por cá os governantes deviam descer do pedestal para se misturarem com a populaça. Podia ser no táxi, como se o táxi fosse um exímio laboratório social. Eu tenho um problema com o táxi enquanto laboratório social. A menos que sejamos tão ricos como os noruegueses (as estatísticas desmentem-no), desde quando o táxi é usado pela maioria das pessoas que se deslocam em transportes públicos?
De acordo com os ambientalistas, parte considerável da população urbana e suburbana usa automóvel quando sai de casa para o trabalho e depois regressa para o descanso. De acordo com os ambientalistas, o automóvel circula em excesso nas cidades. A gente restante enxameia os transportes públicos. Com a magreza dos rendimentos, o encarecimento dos combustíveis e o saque fiscal dos últimos tempos, muita gente passou a usar transportes públicos (dos baratos), deixando o automóvel parado à porta de casa. Ora, os táxis não são baratos. Entre circular de táxi e pegar nas chaves do automóvel antes que ganhem uma camada de poeira, fica mais barata a segunda possibilidade. Portanto, o cidadão médio anda esporadicamente de táxi. Se os jornalistas querem insistir na tese de que o táxi é um laboratório que reproduz o cidadão médio, alguém lhes diga que esbarram no problema de representatividade da amostra.
E mais que fosse: e se os governantes ousassem descer do pedestal (pois é de ousadia que se trata, na penumbra de tempos tão difíceis) e se juntassem à multidão no metro, nos autocarros de cidade, ou nos comboios suburbanos; aprendiam alguma coisa? Só se tivessem a sorte de apanhar conversas entre utentes dando conta das dores que o povaréu sente por causa da governação. Sobram duas contrariedades: o povo é pouco falador nos apinhados transportes públicos; e o povo prefere comentar a governação como o faz com as doenças ou o futebol, ou seja, em cada cidadão há um treinador de bancada com um elevado grau de argúcia que, suponho, pouco aproveitaria à governação. De resto, nestes tempos conturbados, meter um ministro, ou até o primeiro-ministro, por mais disfarçados que estivessem, dentro de um transporte público em hora de ponta era um pesadelo para os serviços de segurança. Sem qualquer dividendo que convencesse os feitores do marketing político a tão arriscada manobra.
Para o final deixo uma derradeira recordação para derreter a ingenuidade dos jornalistas: os países nórdicos têm uma maturidade cívica de que estamos a léguas. Só se compara o que pode ser comparado. 

2 comentários:

Tulinho disse...

Magnífica sua visão. Obrigado por compartilhar, pois muitos de nós (leitores) não temos condições de captar a realidade de fatos desta natureza.
P.S. Gosto muito das publicações.

Tulinho disse...

Explêndido.