In http://www.gestao-frotas.com/wp-content/uploads/2010/05/Táxi.jpg
Da imprensa dos últimos dias: o
primeiro-ministro da Noruega disfarçado de taxista, com sugestivas imagens
recolhidas dentro do táxi. E a imprensa, ingénua, a querer vender a sua própria
ingenuidade ao cidadão comum, levando-lhe a ideia de que o primeiro-ministro
norueguês quis ir para junto do povo medir o pulso à sua sensibilidade. Não
ocorreu os cândidos jornalistas a existência de marketing político e um
fenómeno típico da casta que é a demagogia.
Logo de seguida, insinuou-se que
talvez por cá os governantes deviam descer do pedestal para se misturarem com a
populaça. Podia ser no táxi, como se o táxi fosse um exímio laboratório social.
Eu tenho um problema com o táxi enquanto laboratório social. A menos que
sejamos tão ricos como os noruegueses (as estatísticas desmentem-no), desde
quando o táxi é usado pela maioria das pessoas que se deslocam em transportes
públicos?
De acordo com os ambientalistas,
parte considerável da população urbana e suburbana usa automóvel quando sai de
casa para o trabalho e depois regressa para o descanso. De acordo com os
ambientalistas, o automóvel circula em excesso nas cidades. A gente restante
enxameia os transportes públicos. Com a magreza dos rendimentos, o
encarecimento dos combustíveis e o saque fiscal dos últimos tempos, muita gente
passou a usar transportes públicos (dos baratos), deixando o automóvel parado à
porta de casa. Ora, os táxis não são baratos. Entre circular de táxi e pegar
nas chaves do automóvel antes que ganhem uma camada de poeira, fica mais barata
a segunda possibilidade. Portanto, o cidadão médio anda esporadicamente de
táxi. Se os jornalistas querem insistir na tese de que o táxi é um laboratório
que reproduz o cidadão médio, alguém lhes diga que esbarram no problema de
representatividade da amostra.
E mais que fosse: e se os governantes
ousassem descer do pedestal (pois é de ousadia que se trata, na penumbra de
tempos tão difíceis) e se juntassem à multidão no metro, nos autocarros de
cidade, ou nos comboios suburbanos; aprendiam alguma coisa? Só se tivessem a
sorte de apanhar conversas entre utentes dando conta das dores que o povaréu
sente por causa da governação. Sobram duas contrariedades: o povo é pouco
falador nos apinhados transportes públicos; e o povo prefere comentar a
governação como o faz com as doenças ou o futebol, ou seja, em cada cidadão há
um treinador de bancada com um elevado grau de argúcia que, suponho, pouco
aproveitaria à governação. De resto, nestes tempos conturbados, meter um
ministro, ou até o primeiro-ministro, por mais disfarçados que estivessem,
dentro de um transporte público em hora de ponta era um pesadelo para os
serviços de segurança. Sem qualquer dividendo que convencesse os feitores do
marketing político a tão arriscada manobra.
Para o final deixo uma derradeira
recordação para derreter a ingenuidade dos jornalistas: os países nórdicos têm
uma maturidade cívica de que estamos a léguas. Só se compara o que pode ser
comparado.
2 comentários:
Magnífica sua visão. Obrigado por compartilhar, pois muitos de nós (leitores) não temos condições de captar a realidade de fatos desta natureza.
P.S. Gosto muito das publicações.
Explêndido.
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