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Na carestia das certezas, julgamos as juras como intrépidos tutores
do desassossego. Mas as horas foram fazendo o seu caminho, o lento caminho
enquanto o cais prometido no desafogo das ambições se demorava. As juras,
émulos tardios de um arrependimento que não cuidava de ser adestrado. Pois o
ensimesmar ocultava lucidez, rapace como não admitia ser.
Jogava os ossos contra as arestas vivas das casas, como se fossem
imperativas as cicatrizes. Os manjares opulentos em que se viciara eram o
contraforte onde desfigurava a silhueta outrora esbelta. Mas as dores do corpo
já não importavam. Poucas eram as apoquentações que importavam. Numa ascese
inesperada, prometeu-se aos prazeres que desprezara. Os manjares opulentos, a
bebida farta, a luxúria que não sabia existir, uma montanha que ia trepando à
medida que travava conhecimento com o ilícito. Entre dois momentos de
embaciamento dos sentidos, jurou que jamais voltaria a jurar. Se fosse a
perdição, ao menos que emalassem seus pertences numa dionisíaca entrega ao
desapego.
Despojou-se da materialidade egoísta. Foi empobrecendo. Contudo,
nunca havia sentido tanta gratificação interior, tão probo como nestes tempos de
hedonismo. Dissolveu-se do trabalho. Sabia que o consolo de um salário seria
miragem. Como soube negociar a despedida com
a habilidade, embolsou uma maquia que acautelava imponderáveis nos meses
incertos que estivessem para vir. Era o salvo-conduto para a folia que tardava.
Diante das estátuas que sagrava, voltava a jurar que não repetiria juras.
Sabia: que as juras são a parte de fraco de quem decai na fragilidade. E que as
juras estão fadadas ao vazio, quando, enfim, os olhos marejados anotarem o seu
incumprimento.
O que menos contava era a solidão de
antanho. Da solidão que o fora sem dar conta. O que menos contava eram os
atalhos por onde o porvir vinha antes do tempo. Só interessavam as juras que,
tivessem sido entronizadas pelo caule da caneta, depressa seriam desmentidas.
Assim como assim, as juras desfazem-se na perenidade do impossível. Quem as
cauciona sabe que é desonesto em desproveito próprio. As juras embebem a maior
inutilidade de todos os tempos.