3.10.13

Os ambientalistas são amigos da recessão


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A Quercus, em campanha pública, sensibiliza as pessoas: “promova a troca de produtos usados”. Vejo na televisão, a seguir, os exemplos ilustrados: meninos a trocarem patins por outra coisa qualquer, meninas a trocarem utensílios de ballet por outra coisa qualquer, gente graúda a trocar livros e discos entre si, mais gente graúda a trocar roupa e calçado por outra roupa e calçado.
A lógica tem lógica. Os ecologistas combatem as agressões ao ambiente. Produzir, de uma forma ou de outra, exige um processo que é danoso para o ambiente. Se as pessoas forem educadas para a preservação do ambiente, e se forem instruídas de que o consumo exige produção e que esta se traduz em lesões no meio ambiente, talvez aconteça que elas entrem em castidade consumista e se abracem num promissor mercado de troca de produtos usados. E seríamos todos felizes, habitando um planeta mais verde e povoado por um exército de desempregados.
Mas, porventura, a lógica dos ambientalistas é ilógica nas circunstâncias em que estamos e no contexto ideológico em que os defensores do meio ambiente se movem. Primeiro, às circunstâncias. Anda meio mundo, e mais desertores da outra metade (à medida que o tempo avança e a crise se não resolve), a exigir outra política económica que abandone a retidão fiscal e se vire para o crescimento económico. A esquerda e a extrema-esquerda (e sectores da direita conservadora e da igreja) não têm dúvidas: isto não vai lá com o saneamento das contas públicas. Se a prioridade não for o crescimento, a economia definha no seu coma. Se os bolsos das pessoas continuarem curtos, elas não podem consumir. Mais consumo evita o crescimento do desemprego, que por sua vez alimenta ainda menos capacidade de consumo. Em contrapartida, mais consumo traz mais oportunidades de produção para as empresas que ainda não fecharam, podendo contratar mais gente para satisfazer o aumento das encomendas. Havendo mais gente empregada, com mais salários distribuídos, o consumo continua a subir e a produção também. Eis que aparece a Quercus a salpicar as expectativas com gelo, ensinado as virtudes da troca de produtos usados. A Quercus é dos maiores adeptos da recessão em vigor.
Segundo, o contexto ideológico: os ambientalistas costumam gravitar na órbita de uma esquerda qualquer. Julgo ser o caso da Quercus. Esta contradição isola os ambientalistas num ostracismo. Pois se as esquerdas estão cansadas de austeridade que propositadamente incendiou a recessão, como pode a Quercus defender a troca de produtos usados? As esquerdas, ninhos onde se alojam os ambientalistas, ainda não censuram a ousadia dos ambientalistas. Silêncios comprometedores. Ou distrações sintomáticas (de coerência).

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