In http://www.novatostradingclub.com/wp-content/uploads/2011/02/Bolsa-bofetada.jpg
É um dos mandamentos cristãos: a uma
estalada, dar a outra face.
Do tempo recente: um quase incidente
diplomático entre Portugal e Angola, ou pelo menos um esfriamento ditado desde
Luanda. E um jornal angolano que se entretém, dia-sim-dia-sim, a enviar recados
oficiais que, fôssemos o que fomos outrora, ou houvesse um pedaço de espinha
dorsal, soava a ultraje. A diplomacia de cá faz como o avestruz. Assobia para o
ar quando o jornal angolano vomita editoriais que parecem bofetadas que o filho
entretanto na maioridade desfere no pai envelhecido que vive à míngua de
forças. (Pois não foi o jornal angolano que repetiu, uma e outra vez, a
acusação de neocolonialismo?)
No auge desta escalada diplomática, o
ditador de Angola terminou com a “parceria” estratégica. No tempo que veio
depois, os que aqui têm a responsabilidade política desvalorizam a pendência.
Voltam a assobiar para o ar e, diz-se, confiam nos bons serviços do presidente
da república. Logo de seguida, o jornal angolano volta a fazer mira a Portugal.
E a nossa diplomacia continua distraída, ou a fazer-se de distraída. Talvez
seja estratégia negocial. Em vez de responder à letra – o que seria inaudito, lembrando
a vassalagem dos anos recentes; e para não ferir as virgens do costume, que se
apressariam a acusar o governo de neocolonialismo –, as autoridades de cá
atiram gelo para a fogueira.
Angola, porém, quer a fogueira. Assim
como assim, tem a massa na mão, a massa de que estamos carentes como um
esfaimado de um pão recesso. A nossa diplomacia deixa-se anestesiar. Não
interessa que nos ofendam – aliás, o que interessa uma ofensa se já não somos
um quinhão do que fomos dantes, e os nacionalistas são uma arqueologia qualquer
que o tempo presente atirou para os museus? A diplomacia em Lisboa
especializou-se em dar a outra face. Talvez não entenda que esta posição pode
ser ultrajante para Angola: os angolanos hão de julgar que não damos valor a
quem precisa de uma prova de vida parecida com o colonialismo virado às
avessas. Os que foram tutelados exibem a sobranceria de quem conseguiu virar a
mesa ao contrário. E querem reconhecimento desse estatuto.
Nós, que temos a mania que somos
civilização e dessa civilização podemos dar lições aos bárbaros, escolhemos o
mandamento cristão. De caminho, entre três investimentos angolanos e quatro
insultos rabiscados no jornal de Luanda, inclinamos o corpo para a frente em
sinal de genuflexão. Que interessa que as partes baixas fiquem à mostra? O
dinheiro, que vem não interessa de onde, tudo compensa.
No fim da contenda, podemos oferecer aos
angolanos tão ofendidos o livrinho de Marx com capa de luxo ornamentada a
letras douradas. Há que dar a outra face.
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