In http://botafogo.nova-acropole.org.br/sites/default/files/imagecache/550px_largura/agenda/botafogo/labirinto_p.png
Era um timorato que não saía do sítio,
receoso que o peso de uma decisão, em sendo má, se arqueasse sobre o seu dorso
e não soubesse suportá-lo. Muitos menos as suas consequências. Irresoluto,
pesava cada grama na ponderação do que podia ser propício e das feridas que
podiam ser lancinantes. Na maior parte das vezes, decidia não decidir. Convocava
a incerteza dos efeitos para decidir não decidir. Se fossem deste jaez os
arquitetos do mundo, o mundo tinha parado lá atrás.
Perante as hipóteses de ação,
desembrulhava um largo mapa onde contracenavam os atores da contenda. Por
estranho que parecesse, a complexidade mental que entulhava a indecisão crónica
tinha seu contraforte na singeleza das peças que compunham o xadrez em que se
moviam os feitores da decisão. Tudo se acantonava num binário estertor entre
bons e maus (atores). O problema era quando o raciocínio se virava contra esta
simplicidade e puxava lustro aos meandros complexos: depressa os bons passavam
a ser maus, para mais tarde regressarem à condição de bonomia e, por fim, ser
tanta a confusão que, a páginas tantas, já não sabia quem era quem e em que
condição se movia no tabuleiro. O percurso mental ramificava-se por corredores
que se afivelavam num labirinto indecifrável.
Esmagado pelas dúvidas, e viciado
nelas, reacendia a inércia da hibernação. Um torpor patológico consumia-o.
Aprendeu a conhecer-se como alguém que só sabia de adiamentos. Só quando não
houvesse laivo de dúvida é que arremetia para uma decisão. Mas as únicas
núpcias de que sabia existência eram as da não decisão. Não se lembrava de
concluir, em sentido categórico, que era o que era por estar ao abrigo da
dúvida razoável. Tudo esbarrava na dúvida razoável. O lastro proeminente de
onde emanava a única decisão que tomara conhecimento: a decisão de não decidir.
Um dia houve: alguém que calou tão
fundo que fez ruir todas as fragilidades. Reaprendeu-se. Deixou de ser
condómino da indecisão. Queimou os papeis onde resguardava o cautelar
pronunciamento da dúvida razoável. Extinta a fronteira mental, viciou-se em
decisões. Já não interessava se eram ponderadas. Também aprendeu a conviver com
o lado amargo das decisões que, saber-se-ia no porvir, foram erradas. Não fora
o arrependimento que aprendera. Aprendera a pastorear os riscos. Pois uma má
decisão é sempre melhor que o letargo da não decisão.
Sem comentários:
Enviar um comentário