In http://farm2.staticflickr.com/1268/1240639571_5373162864_z.jpg?zz=1
A
grande, majestosa árvore do tempo impressionava pelo porte. Mesmo quem a
conhecia de dias a fio por ela passar. Distinguia-se das demais. O tronco era
singular. Um diâmetro que não deixava lugar a abraços de um humano, tamanha a
circunferência que era seu perímetro.
Talvez
pela firmeza do ancoradouro, a majestosa árvore não vacilava nem quando
tempestades desembestadas arrimavam a terra. Podia ventar o que ventasse, podia
caudalosa ser a chuva, podiam relâmpagos tonitruantes ameaçar o esquartejamento
da árvore, que ela não se intimidava. As da sua igualha, mas de porte singelo,
torciam-se com o vento enfurecido, despojavam-se de folhagem quando os
primeiros laivos outonais se colavam ao calendário. Ela parecia viver em
hibernação. Eram precisas algumas semanas, já as vizinhas árvores estavam quase
nuas, para as primeiras folhas se tornarem caducas. Nela, o outono esbarrava
numa teimosia de quem se oferecia como matriz do arvoredo circundante. Era a
rainha mestra da pequena amostra de floresta enxertada no meio da praça,
contradizendo a frieza do cimento e do asfalto e do vidro resplandecente que se
irmanavam com o granito e o mármore dos edifícios mais antigos, mais
sumptuosos.
A
árvore majestosa fazia par com os edifícios mais antigos, os de traça
antiquada, com as linhas pós-barrocas da arquitetura que cuidava de uma talha detalhada.
A grande, majestosa árvore só deitava o olhar a esses edifícios. Conservadora,
desestimava a modernidade. Tratava-a, à modernidade adjacente, com a
sobranceria que uma rainha-mãe dedica às súbditas. Não que as desprotegesse,
que as árvores das imediações encontravam abrigo na ramagem duradoura que
pendia dos braços musculados que ramificavam, abundantes, da árvore centrípeta.
Mas
tudo tem o seu contraponto. Nada que seja miradouro da natureza é apenas uma
constelação de cintilações admiráveis. Quando o calendário se virava do avesso
e a primavera afugentava as sobras do inverno, já as árvores mais jovens
vicejavam nos rebentos de folhagem que irrompiam dos galhos ainda frígidos, a
árvore centenária continuava muda de folhas por umas semanas a eito. E nem
assim deixavam os seus ramos desnudados de abrigar as árvores que ainda vogavam
na adolescente idade.
Aquela árvore não se cansava de ser matrona da praça. Houve artistas que a consagraram nessa condição. Pelo menos, um pintor e dois poetas. Esse era o maior reconhecimento a que a grande, majestosa árvore dava importância.
Aquela árvore não se cansava de ser matrona da praça. Houve artistas que a consagraram nessa condição. Pelo menos, um pintor e dois poetas. Esse era o maior reconhecimento a que a grande, majestosa árvore dava importância.
Sem comentários:
Enviar um comentário