11.10.13

O ministro dos negócios estrangeiros que será recordado pelo efeito cataclísmico nas relações amorosas


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O ministro Machete pegou no machado e tratou de descompor a serenidade das relações amorosas (partindo-se de um monogâmico pressuposto). Acusado de ter mentido ao parlamento, não lhe ocorreu melhor que retorquir que mentira não fora, fora uma simples “incorreção factual”. Truques de semântica de quem tira um atestado de ignorância ao cidadão comum. Suponho que Machete terá acreditado que a sua pose de quase senador da política dispensa outras justificações mais convincentes e racionalmente elaboradas. Terá pensado que a coisa ia lá com um eufemismo, ou um malabarismo semântico típico dos advogados e, mais ainda, dos advogados que fazem política, já que o povo é simplório e come à vontade gato por lebre.
O pior pode estar para vir: gente pouco dada à monogamia, mas que não quer estragar o relacionamento a que está agrilhetado, congeminando cenários de adultério. Começarão por calcular que o adultério pode não ser revelação pública, com o que só será adultério na sua íntima consciência (que tem o valor de uma moeda fraca). Se vierem a ser descobertos nas suas carnais fraquezas, que invoquem os adúlteros a doutrina Machete: “querida(o), não foi adultério. Tratar aquilo por adultério é uma incorreção factual. Nem precisas de me perdoar.” Será expressão alternativa, e com o selo persuasivo de tão eminente quase senador da política, ao mais habitual “querida(o), tem calma, isto não é aquilo que parece.” Ao que a(o) consorte vai à vidinha, convencida(o) que tudo não passou de uma “incorreção factual” e que o(a) adúltero afinal não o foi. A doutrina Machete inaugura uma nova era poligâmica (e poliândrica), pois ninguém poderá ser acusado de ter mentido. Não terá sido mentira, apenas uma “incorreção factual”.
Os advogados, e os advogados que habitam a política, julgam-se hábeis na manipulação retórica. Estimam que sabem todos os truques da semântica. Acham-se acima dos demais, ainda convencidos que uma licenciatura em direito é das tarefas mais quase impossíveis que se conhece. Têm uma destreza ímpar na insolência com que usam palavras querendo-nos convencer que elas significam o seu contrário. É uma destreza que os candidata a serem exímios atores. Depois entram nos labirintos da hermenêutica, numa discussão que derrota os oponentes por KO de cansaço.
A doutrina Machete, a levar vencimento, abeira-nos da promiscuidade. Quem diria que o seu ideólogo vem das catacumbas do conservadorismo.

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