25.10.13

O justo equilíbrio

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Encontrou o seu diadema. Pela justa medida, uma floresta frondosa onde passeava sem importunações. Os pés arrastavam a folhagem que se estendia no solo, colhendo o odor tão próprio da humidade imersa em copiosa vegetação. Se havia sítios onde o arvoredo era tão denso que a luz do sol mal conseguia beijar o chão, não se entristecia ao adivinhar que os arautos dos lugares-comuns depressa lavrariam sentença daquele ser um lugar acabrunhado, um lugar onde a existência corria a preto e branco.
Mas tudo estava, naquele lugar, possuído por garridas cores. Era nos plátanos, nos musgos que colonizavam pedras aleatórias, nas acácias que rompiam aos céus, nos fetos harmoniosamente pendidos uns sobre os outros, nos pequenos regatos que emprestavam uma cristalina sonoridade à quietude da floresta – era neste lugar que aprendera a afinar a bússola dos sentidos. Por isso entronizara a floresta seu particular reino. O diadema que lavrou a coroação como rei da floresta era uma quimérica pedra que desapossava os apoderados da perfídia. A floresta era antídoto invencível. Umas horas imerso no labirinto da floresta destituíam as ambições dos cruéis.
A certa altura, já a floresta dera os rudimentos para a justo equilíbrio, e este passara a ser rotina. Fora, talvez, a primeira vez que não se desassossegou com uma rotina. Era bom sinal. Tanto fora o tempo com as bainhas da balsa descosidas, a balsa metendo água, umas vezes tão depressa que pesava a ameaça de naufrágio, tanto fora o tempo gasto em ausente equilíbrio que o justo equilíbrio de agora merecera abundante consagração. Mas o tempo esgota-se na sua medida. Esgotada essa medida, o justo equilíbrio deixou de ser celebrado a cada alvorada consecutiva ao sono isento de tempestades noturnas. Era, o justo equilíbrio, um ingrediente da normalidade entronizada no diadema que ostentava com garbo.

Na medida do justo equilíbrio, as nuvens plúmbeas eram um regaço, como tantos outros, onde apetecia deitar. Os tempos tinham mudado; as plúmbeas nuvens já não eram, como outrora, presságios de medonhas tempestades a que o equilíbrio, o sempre instável e transitório equilíbrio, se rendia.

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