21.10.13

O que é feito dos moinhos de vento?


In http://e-lee.ist.utl.pt/realisations/EnergiesRenouvelables/(...)image001.jpg
Há uma altura em que nos emprestamos aos idealismos. Embota-se a lucidez, afivela-se a enorme coragem, física ou intelectual, e o corpo entrega-se aos moinhos de vento que passam. Na altura, não admitimos que os moinhos de vento que hasteamos são episódilocos. Uma simples espuma do tempo, que um vento qualquer desfaz em ruínas. E, no entanto, enquanto os moinhos de vento não o são, antes sendo bandeiras emproadas ao mais alto do mastro altaneiro, escurecem os sentidos, os olhos emulsionam-se de furor, a pele ferve, febril, como febris e irracionais são as causas que atiram para o caudal do radicalismo.
E o que tem de mal o radicalismo? Que mal têm os moinhos de vento que enfeitam a paisagem à passagem de um apeadeiro qualquer do tempo? Quando a tempestade acalma e deitamos o olhar por trás do ombro, admitindo só então que houve um tempo em que remámos através das águas enervadas, a bonança facilita o que julgamos ser uma sensata forma de rever o tempo passado. Já alguém perguntou se os espelhos não andam trocados e a bitola se configura do avesso? Já alguém se perguntou se o que se julga maré bonançosa não é um moinho de vento que não se julga sê-lo?
Um bardo exorta, a partir da auto experiência, em jeito provocatório: “gosto de me drogar”. Será metáfora. Mas depois entende-se a metáfora da existência. Com as más andanças do mundo lá fora, mais vale fazer de conta que tal mundo é uma inexistência. Um convite à alucinação. Um ensimesmar que deifica o remanso que há quando mergulhamos na existência que somos dentro de nós. Como se fora das fronteiras do eu nada mais houvesse.
E se um acaso faz da existência pessoal uma insuportável coincidência, faça-se a vontade ao bardo. É um outro ângulo de quem parte em demanda de moinhos de vento.

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