In http://e-lee.ist.utl.pt/realisations/EnergiesRenouvelables/(...)image001.jpg
Há uma altura em que nos emprestamos
aos idealismos. Embota-se a lucidez, afivela-se a enorme coragem, física ou
intelectual, e o corpo entrega-se aos moinhos de vento que passam. Na altura,
não admitimos que os moinhos de vento que hasteamos são episódilocos. Uma
simples espuma do tempo, que um vento qualquer desfaz em ruínas. E, no entanto,
enquanto os moinhos de vento não o são, antes sendo bandeiras emproadas ao mais
alto do mastro altaneiro, escurecem os sentidos, os olhos emulsionam-se de
furor, a pele ferve, febril, como febris e irracionais são as causas que atiram
para o caudal do radicalismo.
E o que tem de mal o radicalismo? Que
mal têm os moinhos de vento que enfeitam a paisagem à passagem de um apeadeiro
qualquer do tempo? Quando a tempestade acalma e deitamos o olhar por trás do
ombro, admitindo só então que houve um tempo em que remámos através das águas enervadas,
a bonança facilita o que julgamos ser uma sensata forma de rever o tempo
passado. Já alguém perguntou se os espelhos não andam trocados e a bitola se
configura do avesso? Já alguém se perguntou se o que se julga maré bonançosa
não é um moinho de vento que não se julga sê-lo?
Um bardo exorta, a partir da auto
experiência, em jeito provocatório: “gosto de me drogar”. Será metáfora. Mas
depois entende-se a metáfora da existência. Com as más andanças do mundo lá
fora, mais vale fazer de conta que tal mundo é uma inexistência. Um convite à
alucinação. Um ensimesmar que deifica o remanso que há quando mergulhamos na
existência que somos dentro de nós. Como se fora das fronteiras do eu nada mais
houvesse.
E se um acaso faz da existência
pessoal uma insuportável coincidência, faça-se a vontade ao bardo. É um outro
ângulo de quem parte em demanda de moinhos de vento.
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