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Julgava-se ilusionista do tempo. Seu
tutor, como se todas as clepsidras estivessem metidas em suas mãos. Queria
arrematar o tempo em sua celeridade, porque não cuidava de apascentar a
paciência que é diligente. Não era o tempo que passava por ele; gabava-se de ser
ele a passar pelo tempo, com a destreza de quem se encanta com os holofotes
luminescentes que, de tanto o serem, são a hermenêutica dos sujeitos desligados
do predicado.
Na imberbe condição de uma juventude
que se alvitra capaz de amadurecidas proezas, bebia do cálice das certezas. A
maior de todas: era intangível ao tempo tiranete. Dono de uma imortalidade que
vivia por dentro da insuprível mortalidade humana. Ou, por outras palavras:
quando viesse o epílogo e a mortalidade irremediável fosse confirmada, já nada
importava se tudo o que convocara a atenção fora tragado com voracidade, como
se o amanhã não fosse tempero da existência. Tudo o que haveria de ser feito
enquanto os olhos estivessem acordados era a medida da imortalidade.
A heráldica do tempo cuidava da
intemporalidade. Por isso houve noites em branco, alvoradas adiadas, sono
embotado mercê do afogueado estado da alma que queria cativar entre as mãos a
mais pura essência do ser e do estar. Foi quando aprendeu que o tempo não é uma
medida que se unge pela quantidade. Na sua intersubjetividade, alberga
diferentes medidas. Afere-se pela qualidade com que é sentido na pele. Por isso
resguardava junto ao regaço as clepsidras que açambarcava quando as janelas se
entreabriam às viagens imaginadas. Era, convém lembrar, tutor dessas
clepsidras. Que pautavam o andamento das horas e dos minutos consoante a sua
vontade.
Quando, enfim, percebeu que o tempo é
malsão e deitou fora as clepsidras erráticas, entrou no Ramadão dos
desenganados. Custou o convencimento de que afinal é o tempo que passa por ele.
Custou saber que está encomendado ao envelhecimento. De começo, jurava que o
envelhecimento seria retrógrado. Com a bênção dos calendários sobrepostos, em
cima da poeira adicionada pelo tempo irremissível, houve um tempo em que capitulou
perante o tempo. Que deixou de ser malsão. Deixou, até, de ser o opróbrio de
rugas que desatou catilinárias ao tempo amaldiçoado.
Hoje não é nada disto. Vê o tempo que
se desbota com a placidez do nevoeiro que entra, vagaroso, na barra do rio e
perfuma as margens com maresia.
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