16.10.13

Nove – e os outros, muitos, nove a seguir


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Nove anos é muito tempo. E o que me consola, para além de seres maior do que os teus nove anos deixam à mostra, é que muitos outros nove teremos juntos à espera.
Eu sei. Eu sei que me dizem que cresces e num ápice deixas de ser minha. Mas tu, em sendo minha, nunca minha serás: é da condição humana: cada um pertence a si mesmo. No resto, somos (enquanto pudermos) vigilantes atentos. O tempo é curador do que seremos um no outro. Daqui, preparado para as tuas dores de crescimento. As que são tuas e as minhas, que me demoro no convencimento que não sou pai galinha, quando no auge do crescimento fores menos assídua. Não importa. Pois o tempo não se mede nas léguas amestradas pelo céu macio. O que mais quero é que contes, com o vagar de uma vida bem sumarenta, muitos noves sentados uns em cima dos outros. Eu estarei, ombro teu, onde quer que estejas, onde quer que eu vá, para as dores todas que o mundo ousar depor na tua pele.
Nove anos e parece que ainda foste bebé. Talvez seja eu a demorar o envelhecimento. Ou tu, que te adiantas ao tempo e deixas o corpo passar a perna à idade. As pessoas dizem que cresceste muito. E, todavia, num paternalismo ingénuo, vejo-te como a menina que parecia não ter crescimento. Revejo as pueris brincadeiras, a música que aprendeste a gostar comigo (bem sei: agora já ouves a música que as adolescentes endeusam), as histórias que te li ao deitar, ou aquelas que inventei vindas de um nada. O teu sorriso luminoso, a gargalhada irrefreável enquanto mergulhava na tua barriga e te desfazias em cócegas, o teu cabelo veludo, as rosáceas carmim quando, no esforço que não gostas, te afogueavas.
Hoje, que é o espelho retrovisor dos nove anos que trazes em ti, quero resistir a oráculos. A madurez do tempo fará o que for de preceito. Não posso ser arquiteto das formas do tempo por onde queiras transitar. De uma coisa estou certo: aos nove de empreitada, ou aos que vierem por vir, de ausências não cuidemos. Cuidemos de enlaçar as mãos, como ainda fazes talvez por temor da rua, e nelas viajemos até onde os amanhãs nos quiserem transportar.
De mim podes levar tudo o que eu tiver para dar. 

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