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Nove anos é muito tempo. E o que me
consola, para além de seres maior do que os teus nove anos deixam à mostra, é
que muitos outros nove teremos juntos à espera.
Eu sei. Eu sei que me dizem que
cresces e num ápice deixas de ser minha. Mas tu, em sendo minha, nunca minha
serás: é da condição humana: cada um pertence a si mesmo. No resto, somos
(enquanto pudermos) vigilantes atentos. O tempo é curador do que seremos um no
outro. Daqui, preparado para as tuas dores de crescimento. As que são tuas e as
minhas, que me demoro no convencimento que não sou pai galinha, quando no auge
do crescimento fores menos assídua. Não importa. Pois o tempo não se mede nas léguas
amestradas pelo céu macio. O que mais quero é que contes, com o vagar de uma
vida bem sumarenta, muitos noves sentados uns em cima dos outros. Eu estarei,
ombro teu, onde quer que estejas, onde quer que eu vá, para as dores todas que
o mundo ousar depor na tua pele.
Nove anos e parece que ainda foste
bebé. Talvez seja eu a demorar o envelhecimento. Ou tu, que te adiantas ao
tempo e deixas o corpo passar a perna à idade. As pessoas dizem que cresceste
muito. E, todavia, num paternalismo ingénuo, vejo-te como a menina que parecia
não ter crescimento. Revejo as pueris brincadeiras, a música que aprendeste a
gostar comigo (bem sei: agora já ouves a música que as adolescentes endeusam),
as histórias que te li ao deitar, ou aquelas que inventei vindas de um nada. O
teu sorriso luminoso, a gargalhada irrefreável enquanto mergulhava na tua
barriga e te desfazias em cócegas, o teu cabelo veludo, as rosáceas carmim
quando, no esforço que não gostas, te afogueavas.
Hoje, que é o espelho retrovisor dos
nove anos que trazes em ti, quero resistir a oráculos. A madurez do tempo fará
o que for de preceito. Não posso ser arquiteto das formas do tempo por onde
queiras transitar. De uma coisa estou certo: aos nove de empreitada, ou aos que
vierem por vir, de ausências não cuidemos. Cuidemos de enlaçar as mãos, como
ainda fazes talvez por temor da rua, e nelas viajemos até onde os amanhãs nos
quiserem transportar.
De mim podes levar tudo o que eu
tiver para dar.
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