In http://www.tocadacotia.com/wp-content/uploads/2012/11/10-coisas-que-voce-fazia-quando-crianca-apostar-corrida-com-gotas-de-chuva-.jpg
A insónia que se demora. Lá fora, outro
aguaceiro. As gotas grossas esmagam-se contra a persiana semicerrada, tornam a
chuva audível. São o presságio das lágrimas furtivas que um homem não tem
vergonha em verter.
Sitiado pelas apoquentações, inerte
perante a encruzilhada que promete resoluções, remói por dentro das
fragilidades em que se debate. Fecha os olhos como se estivesse a chamar o
sono. Como se soubesse que o sono destravasse os labéus que escurecem o
horizonte que se projeta nos seus olhos. Que, estando fechados, reivindicando o
sono que se dissolveu antes do tempo, distinguem a nitidez dos sobressaltos que
são a catilinária que o persegue. Talvez haja apenas um erro de apreciação.
Talvez ele seja fautor dos seus próprios sobressaltos. E a chuva lá fora, tão
sonora na sua precipitação sobre o chão e as paredes da casa, seja as lágrimas
em que se depõe quando o precipício se abeira.
Ainda de olhos fechados, continuando a
teimar que o sono, se viesse, turvava os sobressaltos que vieram à tona,
percorre as páginas que formalizam as apoquentações. E sê-lo-ão, como julga? A
chuva lá fora, se for a metáfora das lágrimas derramadas mercê do
entristecimento de si, pode ser um sinal. Mas a chuva lá fora é ocasional. Ora
esbarra com fragor nas persianas, ora se silencia amplificando o silêncio da
alta madrugada. Acha-se réu das diminuições que o arrastam pelo chão. Se saísse
à rua, onde a chuva volta a ecoar, trataria de subir a cabeça ao céu para ser
ungido pela chuva. Levantando-se do chão que o consome. A chuva cuidaria de
lavar as lágrimas que não conseguisse reprimir. Pois a certa altura, chuva e lágrimas
confundiam-se num todo indistinto. Depois regressava a casa, encharcado pela
chuva grossa e pelas lágrimas agora enxutas.
Os sobressaltos são iníquos. Mais a mais
quando levitam na espuma de um olhar embaciado. Mais a mais, quando atingem
quem deles não tem culpa. As lágrimas vertidas, como se fossem representação de
lágrimas feridas, formam a cicatriz. O sono ficara de véspera, à espera de ser
rematado na noite que viesse a seguir. Em forma de verdejante planície banhada
por um dia soalheiro.
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