In http://www.youtube.com/watch?v=8qFIvnWy07w
(Ontem é todo o tempo que abonarmos como
tal)
Dizem-nos que as coisas são intemporais.
Que há um fio condutor entre as diferentes camadas do tempo. Dizem-nos: que não
há cautela em afirmar as diferentes camadas do tempo quando, pelo seu fio de
prumo, vêm encasteladas num uníssono. Deixamos o tempo vir a nós. Não queremos
ser seus tutores, não vá o tempo assanhar-se e instruir vingança implacável.
Olhamos para a vastidão do tempo pela
lente clara que decanta os desenganos. Detemo-nos em coisas prosaicas, em
detalhes que não cativam a atenção dos demais, nas partículas que se obtêm da
combustão das almas, dos olhares cúmplices que se fundem num só, na
universalidade imensa que transluz no mar que somos nós. Também nos dizem, outros
que apascentam a rotina dos costumes, que cuidemos de investir no tempo
vindouro. Que devemos deixar em núpcias esquecidas o desassossego do pretérito,
mesmo que o pretérito tenha sido açambarcado pelo viço que não decai no
esquecimento. Não esconjuremos o que houve. Nem cuidemos de vacilar no tempo
que já foi, pois o tangível é o que está prometido.
Mas não sejamos atraiçoados pelos
compartimentos estanques do tempo, ou dos tempos que se julgam diferentes
porque se conjugam em diferentes tempos verbais. As árvores floridas nos ramos
dantes despidos, os gansos que grasnam melopeias que repõem o rumor, os
pedintes que outrora foram bem-postos, as frases ilógicas que já nidificaram em
lógica, os rios que entram na embocadura do mar, a coreografia das nuvens que
se desfazem em chuva, a senescência que cresceu da infância: eis o somatório de
atos contínuos que se desembaraçam dos estanques tempos que se julgam
diferentes.
Os olhos, em uníssono, disputam o
porvir. É lá que se encontram os prazeres em que queremos aportar. Mas os
olhos, imersos nesta lucidez, não desvalorizam um tempo que já é de antanho,
que se enraizou num tempo de que fomos fautores. O futuro vem sempre de trás.
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