10.1.14

O futuro começou ontem

In http://www.youtube.com/watch?v=8qFIvnWy07w
(Ontem é todo o tempo que abonarmos como tal)
Dizem-nos que as coisas são intemporais. Que há um fio condutor entre as diferentes camadas do tempo. Dizem-nos: que não há cautela em afirmar as diferentes camadas do tempo quando, pelo seu fio de prumo, vêm encasteladas num uníssono. Deixamos o tempo vir a nós. Não queremos ser seus tutores, não vá o tempo assanhar-se e instruir vingança implacável.
Olhamos para a vastidão do tempo pela lente clara que decanta os desenganos. Detemo-nos em coisas prosaicas, em detalhes que não cativam a atenção dos demais, nas partículas que se obtêm da combustão das almas, dos olhares cúmplices que se fundem num só, na universalidade imensa que transluz no mar que somos nós. Também nos dizem, outros que apascentam a rotina dos costumes, que cuidemos de investir no tempo vindouro. Que devemos deixar em núpcias esquecidas o desassossego do pretérito, mesmo que o pretérito tenha sido açambarcado pelo viço que não decai no esquecimento. Não esconjuremos o que houve. Nem cuidemos de vacilar no tempo que já foi, pois o tangível é o que está prometido.
Mas não sejamos atraiçoados pelos compartimentos estanques do tempo, ou dos tempos que se julgam diferentes porque se conjugam em diferentes tempos verbais. As árvores floridas nos ramos dantes despidos, os gansos que grasnam melopeias que repõem o rumor, os pedintes que outrora foram bem-postos, as frases ilógicas que já nidificaram em lógica, os rios que entram na embocadura do mar, a coreografia das nuvens que se desfazem em chuva, a senescência que cresceu da infância: eis o somatório de atos contínuos que se desembaraçam dos estanques tempos que se julgam diferentes.
Os olhos, em uníssono, disputam o porvir. É lá que se encontram os prazeres em que queremos aportar. Mas os olhos, imersos nesta lucidez, não desvalorizam um tempo que já é de antanho, que se enraizou num tempo de que fomos fautores. O futuro vem sempre de trás.

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