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Que se
ponham as almas de molho. Que estejam preparadas para o ciclone dos sentidos. Não
é de um tempestade coloquial que se trata. Não são inconfessáveis as juras que
se interiorizam. Em podendo as afetações ser banidas, de onde sopram as hesitações
que parecem suicídio assistido? Os olhos ensimesmados rejeitam os festivos
estados de alma que a generosidade cambia em troca de nada. O comércio das
almas não se compadece com a troca de mercancias com preço marcado. Há só um
dar, sem o receber como imperativo sinalagma.
Por
todo o lado abundam profetas do infortúnio, que mais parecem profetas da insídia
(a começar pela deles próprios). Sinalizam a obscuridade que totaliza o tempo,
como se não houvesse tempo soalheiro, ou a luz diurna desmaiada pela teimosia
das nuvens que se acastelam como um biombo do céu que se perde na resplandecência
do seu avesso. Os seus rostos são um funeral. Só conhecem palavras malsãs,
sombras estéreis, o amanho das maleitas, a intriga. Prefaciam o fim dos mundos,
que não se demora. Só não sabem se serão habitantes da mortalidade quando o fim
dos mundos achar o seu dia, mas pouca serventia tem o oráculo, caso lhes fosse
dado a conhecer um que fosse revelador. Prefaciam o fim dos mundos enquanto
pressagiam a decadência em estado febril, a incivilidade (dizem, enfáticos), entronizando-se
tutores dos bons valores.
Os
outros, os que recusam o miserável opróbrio do futuro, encantam-se com a
perenidade do presente. Enfeitam-se com coroas de ouro, vestes sumptuosas, ou a
nudez dos corpos trémulos; ensaiam estrofes que ao menos são obras primas no
seu convencimento; deixam as lágrimas a marejar nos olhos quando os sentidos
ensaiam emoções irrefreáveis; servem-se de guarda-chuvas aveludados à prova da
chuva ácida que desarranja os campos; as mãos que vêm das algibeiras trazem as
pétalas perfumadas com os gestos que são um encantamento. E dizem, sem relutância,
que a eternidade não é uma quimera.
A
eternidade é o latim dos puros que desafiam os olhares entristecidos sobre o
que há em redor. Só os olhos escuros conseguem decantar a eternidade.
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