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Umas raridades. Como as raridades, impreçáveis. Olhos esbugalhados de cada
vez que se aprontam ao espelho. É que compraram, propositadamente, um espelho
maior que o seu tamanho. O espelho amplia os retratos que são quando se
oferecem em autocontemplação. Sofrem de uma rara estirpe de gigantismo. Formigas
em corpo de girafa – mercê da ampliação enlouquecedora que o espelho admite. Gostam
de esfregar nas fuças dos outros, pobres mortais no restolho da mediania, façanhas
que ninguém pode ter a ousadia de julgar lúgubres. São padecimentos
irreconhecíveis, a julgar pelo autismo que é sua piscina exótica. Uma espécie
de onanismo em que são onanistas de si mesmos.
Mandá-los apanhar bonés – é que deve ser.
Ajuramentar a fancaria que se encontra perdida entre os vestígios das inúteis
coisas. Se houvesse um caricaturista para os retratar, sairia uma cabeça
disforme, só cabeça sem corpo restante, uma cabeça que escondia, na nunca, um
caruncho que os olhos não conseguiam discernir. Atrás vem a manada de
discípulos obedientes, com tirocínio na genuflexão, orgulhosos por serem pajens.
Houvesse complacência, ou porventura quem não transitasse por uma ruela,
estreita e escura (e por isso pouco frequentada) de rigor, e a aura seria
incontestável. Seriam comendadores precoces, autoridades indiscutíveis, escol
com prebendas a condizer, senadores do conhecimento a destilar sapiência em
cada palavra dita. Ditariam leis caucionadas pelo seu, muito, conhecimento. Aos
demais, resignados à mortal condição, seria imperativo deificá-los. Só que as
cores do mundo não rimam com os autorretratos ungidos pelo gigantismo que fazem
de si mesmos.
Que fossem deuses de pés de barro; não
interessa, desde que sejam deuses. Haveria gente que deles faria matéria-prima
para a pilhéria; não interessa, desde que andem nas bocas do mundo. Os do
séquito por oportunismo sê-lo-iam, só à espera de meter o dente na primeira esguelha
de sinecura; não interessa, desde que haja passadeira vermelha desdobrada à sua
passagem. Uma imensa maioria, quase sempre silenciosa, mandá-los-ia à compra de
caramelos em Badajoz (talvez nem essa sua serventia); não interessa, desde que
fossem caramelos.
Mas, ó contrariedade malfeitora: os
caramelos, nem os de Badajoz, são raridades.
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