In http://us.123rf.com/400wm/400/400/elnur/elnur1101/elnur110100631/8657236-many-burning-candles-with-shallow-depth-of-field.jpg
Perguntou: “para se ser herói é preciso
estar morto?” Respondeu com outra pergunta: “para se ser respeitado é preciso
estar morto?”
Os que ficam para contar a história aos
vindouros precisam do cimento dos heróis. É mais fácil endeusar heróis que
tiveram o seu passamento. Prosseguiu: “não achas que a vã glória dos que
partiram é uma inominável infâmia à vida?” Respondeu com mais uma pergunta: “e
a vida, aquela que é desaproveitada por tanta gente, não é a pior homenagem a
si mesma?” De cada vez que uma figura ia em decesso, homenagens em catadupa. Daí,
outra interrogação: “não perdemos o sentido da vida ao gastar tanto tempo com
demorados tributos aos que morrem?” Mais uma pergunta em jeito de resposta:
“não será porque tememos a morte e não queremos ser esquecidos, pelo menos nos
momentos fúnebres logo a seguir ao passamento?”
Convergiram: procuramos um lugar para a
nossa heroicidade. Não haverá ninguém que não reclame o seu pedaço de
heroicidade. Nem que só irrompa à superfície, em quase unânime reconhecimento,
quando já não podemos ser testemunhas presenciais do clamor e dos prantos que
se montam à passagem do cortejo fúnebre. “Será mercê do uso estabelecido? Será
que a não vassalagem, quando o corpo repousa em velório, é falta de respeito?”
Às perguntas seguiram-se outras duas em jeito de réplica: “podemos ficar
sitiados pelo marasmo das convenções? As convenções não mudam com a espuma do
tempo?”
Há um caixão, ou um pequeno túmulo para
depósito das cinzas, que é o mosteiro onde cada mortal repousa com direito a
ser cortejado. Inutilmente cortejado. Do sítio onde se encontram, os mortais
que vêm tal condição reconhecida estão num sono infinito, não podem ser
testemunhas de nada. Os heróis somos nós, os que vão aos funerais: vemos, numa
retrospetiva antes do tempo, o nosso próprio funeral. Passamos de boca em boca,
através das gerações, o efémero endeusamento dos que partiram do lugar os
vivos. Mandamos dizer que eles são heróis, esperando pela nossa vez de sermos
consagrados heróis.
Houvesse quem ensinasse a efémera, inútil
condição dos heróis. Fazendo lembrar a espuma inconsistente que as marés vivas
depositam na orla, a tão frágil espuma que se esmigalha com a – tímida que seja
– brisa.
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