In http://artnolapis.files.wordpress.com/2008/11/pegasus.jpg
O cavalo sem freios irrompia pelos
campos, sem norte nem sul que lhe aprouvesse. Até que chegou ao areal, onde o
mar fecundo cuidava de molhar as areias tresmalhadas. Mercê do estado
enfurecido do mar, os pássaros tinham encontrado poiso no largo areal.
O cavalo, tão furioso como as ondas
encapeladas do mar, troteou pela areia. Escolhera o lado onde estava o bando de
aves. Assustadas pelo trote acelerado, as aves levantaram voo. O cavalo fez-se
aos ares em companhia das aves. Estaria cansado dos cascos percutirem com força
o chão por onde passara em sua fuga. Muniu-se das asas escondidas e foi atrás
do bando de aves, que partira em sonora algazarra, gritando o medo de que o
cavalo andasse em sua demanda. Mas o cavalo agora alado não tinha maus
propósitos. Ao despedir-se do chão, enquanto imitava o voo das aves assustadas,
não exibia a ira de quem quer ser algoz de alguém. O cavalo alara-se para
coreografar, em comandita com os pássaros desapossados de seu sossego, uma dança
pelos céus em redor. Esvoaçou sobre o mar, ele que sempre quisera ver como eram
as costas das ondas. Ensaiou rasantes sobre a espuma que sobrava das ondas,
quando se arqueavam na partitura medonha que não deixava nenhum pescador ter ousadia
de meter embarcação ao mar.
Os pássaros, enfim, acolheram, o cavalo
alado. Entraram na coreografia espontânea com o cavalo, ensinando-lhe uns
passos que deviam ser aprendidos no ballet
dos ares. O cavalo já não era uma besta irada. Trauteava as melodias sussurradas
pelos pássaros enquanto apreciava a paisagem que via do ar que era seu império.
Sabia que os sonhos pertenciam às ilusões. Sabia, enquanto se adestrava nos
contrafortes dos sonhos, quando ainda pertencia ao remanso da estrebaria, que
os sonhos não eram matéria a que pudesse meter mão.
Naquela tarde, tudo passou a ser
diferente. Lembrava-se de um sonho sobre cavalos que faziam os esbeltos
movimentos dos pássaros quando se entregam à coreografia dos voos. Ele era a
personificação do seu próprio sonho, ao saber-se um alado cavalo.
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