In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8rhlVanXo1qOQfYQUiyT7BYzEMxusmymhpE_DwPv-GY5NLwYjl2E5u2yl9_YchbYEvGxlh8kXlosIrRfhkhcrEyRdpTBJHGu9XgaX6pj6QiPnjx8P4Z5bblirMGEu8DB78gVw/s400/ced+art4+soltando+as+amarras.png
Eram personagens da diferença, tanta que
vogavam nos antípodas do pensamento. Era como se respirassem um ar diferente.
Cultivando a indiferença pelos demais, cada um sentia um vórtice de atração
pelos outros que figuravam no restrito escol de rejeitados. Eram rejeitados
pelos que amealhavam as migalhas dos poderes fáticos. Por causa da sua
insubmissão. Ai de quem ousasse congeminar umas algemas agrilhoando a sua
independência. Ai de quem os algemasse a uma submissão que não incomodasse o
exercício do poder. Eram incómodos. Importunavam-se com a vazia apoplexia que
os aprendizes de tiranetes, sob o falaz manto da tolerância, precatavam nos
anónimos. Não diziam, mas insinuavam, em insulto à inteligência de quem pensa:
“somos vossos fautores, arroteando o
conforto de por vós pensarmos.”
Eram atirados para as margens pelos
poderosos que não conseguiam ter freio neles. Depois de os tiranetes orquestrarem
artes maniqueístas, eram olhados com desconfiança pelo numeroso séquito dos
mandantes. Às vezes, atiravam-lhes pedras, verbais pedras. Queriam que
ripostassem com violência. Às tantas, julgavam os provocadores, não aguentariam
tanto apedrejamento e, impacientes, perderiam a razão com o jugo da violência.
Mas eles não se descompunham. Eram catedráticos na arte da provocação. Não
sucumbiam ao ardil da provocação ensaiada pelos aprendentes. Era quando ao alto
de si assomava a fleuma. O pensamento elaborado cuidava do resto.
Não os incomodava serem verberados pelo
espartilho da incoerência. Estavam-se nas tintas para os sargaços lodosos que
lhes atiravam. Preferiam a dignidade da incoerência à cadavérica sujeição à
batuta do poder. Que fossem os mandantes bater a outra porta se quisessem que
fossem meros instrumentos. Como essa era a incoerência que lhes esbofeteavam em
pose triunfal, apuravam a provocação como esteio do ser. O supremo deleite: o
contorcionismo dos argumentos para empalidecer a forquilha dos malsãos tiranetes.
Quando eles julgavam que dobravam o braço dos insubmissos, estes contradiziam a
contradição anterior, arremetendo por outro lado que os mandantes não
conheciam. Estavam sempre a desbravar novas avenidas.
“Ó
heresia”, suplicavam, atordoados, os tiranetes. Não conseguiam lidar com o
pensamento aleatório e sem redis dos insubmissos. Os tutores dos poderes
fáticos não intuíam como os seus poderes eram devorados pela insubmissão dos
indomáveis. Que se juntavam, em secretas consagrações, depondo o vasto mar de
diferenças que os desunia, para erguerem os cálices com mensal periodicidade.
Festejando a decadência dos poderosos.
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