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A
humanidade é um covil onde andamos atrás das trapaças dos outros, escondendo as
nossas próprias.
Que grande inquietação: gente embebida
em azáfama, querendo mostrar como outros, que se entronizam sozinhos num
púlpito a eles chamado, fogem da hombridade. É como os alcoviteiros que
escarafuncham pacientemente alheias existências no mais relevante sinal de que
vivem atormentados dentro das suas. Há agentes treinados no diligente juízo dos
outros, fazendo as vezes de magistrados ungidos com um manto de moralidade que,
mandam dizer, os deixa à margem de qualquer suspeita. Não precisam, nem
admitem, escrutínio. Pois eles são os escrutinadores. Supremos.
Quem se incomoda com o dedo em riste que
sobre si se abate, protesta: a ninguém deviam ser admitidos papeis
sobranceiros. Pois não é essa a lição dos caudilhos da igualdade? Uns assobiam
para o lado, não se importunam com os achaques que os alcoviteiros de alheias
têmperas atiram para cima deles. Outros, condoendo-se com a infâmia vinda de
algures, esquadrinham a origem do ultraje e viram a mesa do avesso, perseguindo
os perseguidores. É uma caça sem peias, onde todos são predadores e vítimas, um
jogo de que se não sabe quem leva vencimento. Os curadores da impecabilidade
nem dormem só de imaginarem que uns tresloucados, mal amanhados com os costumes
que deviam ser cimento da pertença coletiva, insistem na transgressão.
Os que com nada se inquietam perseguem o
seu ladário, indiferentes ao resto. Mas há gente que se ofende com as comendas
dos predestinados e seus julgamentos sumários. São atirados para um jogo que
depressa se faz selva, sem regras, por ninguém haver disposto a respeitá-las. Um
covil onde depressa o predador amanhece vítima, se for madraço na sobranceria
que o encavalita numa imaginada superioridade. Os que se entregam no afã deste
jogo aviltante não têm tempo para perceber que ninguém se devia levar a sério.
Sermos burlões uns dos outros servia para aplacar as intenções salvíficas e as
orquestrações destinadas a crucificar quem aparecer pela frente com malévolas
intenções.
Se ao menos ninguém se levasse a sério,
ninguém se importaria com vidas fora das suas.
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