29.12.14

Desmascarar fantasmas

Madrugada, "Majesty", in https://www.youtube.com/watch?v=LE9AuZ35_AY
Percebia-se, na frescura da alvorada, que a coragem é enteada da intuição. Não, os olhos estremunhados não toldavam a clareza. Sabia-se que as sombras pretéritas adejavam sobre o pensamento, colonizando medos que talvez fossem espúrios. De que valia embotar o tempo sensível com fragmentos de um tempo metido na vara das lembranças?
Os fantasmas não se vêm. Quando deviam ser tratados com a irrelevância das figuras inexistentes, às vezes comandam os temores, travam as ações, enxameiam o porvir com vestígios contaminados do passado que deixou de contar (por ser passado). Que a intuição seja imperatriz. Que comande os fios que se unem à raiz do pensamento, como se a intuição fosse manipuladora de uma marioneta. As fragas da intuição podem ter arestas vivas, e os olhos podem esbarrar em superfícies rudes, desagradáveis ao trato. Há alturas em que a coragem se impõe no papel de capitã da intuição. Nem que depois de alguns sacrifícios, em que o corpo se entrega às asperezas das fragas da intuição, os fantasmas sejam derrotados.
É uma coragem batizada pela simplicidade. Tudo consiste no achamento da vacuidade dos fantasmas. Mesmo que seja dado intuir que há fantasmas que fermentam consumições, eles não são matéria carnal, são um vazio inteiro. Como pode alguém ser refém de entidade imaginária? A coragem está em comandar o entendimento de modo a dar por assente que os fantasmas, a existirem, são irrelevantes. (Mais ousada alternativa é a intuição desaguar no entendimento de que não há fantasmas.)
Se para tal preciso for atravessar um rio caudaloso, um rio tão enfurecido que parece discernir-se o rosto de um monstro medonho nos remoinhos das águas, os pés que se metam ao caminho. Esquadrinhem as margens escarpadas em demanda de uma ponte que permita a travessia para a margem onde estão as promessas de mel, vinho idílico, frutos sumarentos e uma almofada que destrava o sono pacato. As mãos que se metam nas águas sem freio só para saberem como é ser-se indomável.
A intuição é o aval da vontade irrefreável. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Je sympathise avec vous.
wordPl